“Há dessas reminiscências que não descansam antes que a pena ou a língua as publique”.
(Machado de Assis.)Estamos em época do “sesquicentenário do Paraná”.
Coincidência ou não, passei a dedilhar o delicioso opúsculo, cujo título encima esta modesta crônica e que contém um pouco de história de nossa Curitiba e, pois, do Paraná, curiosas e agradáveis reminiscências de um passado, já um tanto remoto.
O autor, emérito professor universitário, licenciado em História e Geografia, também bacharel em Direito, descendente de família originária da Alemanha, aqui radicada e com ampla atividade comercial, veio a se projetar no meio cultural, lançando, agora, esta esplêndida obra, que delicia pelo encantamento, com histórias e mais histórias.
Não saberia definir se Histórias paranaenses, de Leônidas Boutin, produzida em abril do corrente ano e que, no prólogo, vale-se de máxima machadiana, são crônicas ou minicontos. Na verdade, são escritos reveladores de grande sensibilidade e definidas como “histórias da História”, já que relatam acontecimentos do cotidiano e episódios incorporados à própria História do Paraná, como aqueles envolvendo o saudoso monarca D. Pedro II.
De qualquer sorte, como escreve o ilustre apresentador, “a obra que acaba de nascer é fadada ao sucesso”.
Não é possível transcrever passagens pitorescas do livro, como aquela reveladora da agilidade mental de Alceu Chichorro que, esbarrando, por acaso ou propositalmente “nas abundâncias traseiras” de uma senhora que viajava em um bonde, por ela foi chamado de “cachorro”, a que, prontamente respondeu: “Cachorro não! Chichorro!”.
Revelo, contudo, hilariante fato “Aconteceu com Jonas”, para, talvez, despertar mais curiosidade daqueles que haverão de se encantar com outros assemelhados:
“Ele deixou seu carro no pátio do estacionamento da Estação Rodoferroviária de Curitiba, e saiu apressado a comprar bilhete de passagem. Logo regressou em busca do veículo. Mas qual foi a sua surpresa?! Dentro estava um casal em alegre e feliz agarramento amoroso, aos beijos e bolinagem, seu pasmo foi tanto que teve tempo suficiente para observar tudo. Voltou atrás e conferiu a placa para ter certeza. Não havia dúvidas, era mesmo seu carro prateado. Tomou-se de indignação e investiu, abrindo a porta enquanto berrava contra aquele atrevimento. – Que estão fazendo aí no meu carro, como se não soubesse o que faziam. Aqui não é motel… O casal assustado, tratou de se recompor. -Estamos namorando, este carro é meu e não é da sua conta -, disse o jovem, sem se alterar, enquanto ela abotoava a blusa e ele limpava as manchas de “batom” da face. -Não é teu não, você conferiu o número da placa? – O senhor é que não conferiu -, respondeu o jovem. Jonas ainda cheio de razões, olhou para a direita e para a esquerda. Surpreso viu, mais além, à sombra das árvores, outro carro igualzinho. Foi conferir. Era o mesmo número do outro, apenas divergiam nas letras iniciais e o nome do município em que foi emplacado. Constrangido com a coincidência e com o papelão que fez, Jonas pediu desculpas. Eles gentilmente o desculparam com risos e sorrisos, como a se divertirem com aquela tremenda gafe cometida, porque nem sempre é o que parece ser”.
Luís Renato Pedroso é desembargador jubilado e presidente do Centro de Letras do Paraná.