O Brasil pode ter uma saída para escoamento de produtos via Pacífico em, no máximo, cinco anos, com a construção de quatro usinas hidrelétricas ao longo do rio Madeira. Os reservatórios das usinas vão criar uma malha hidroviária num perímetro de 4,2 mil quilômetros entre o Brasil e a Bolívia. As empresas Furnas Centrais Elétricas e Norberto Odebrecht apresentaram, nesta quarta-feira (08), à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o estudo de viabilidade da usina de Jirau, que será construída a 130 quilômetros de Porto Velho e entregam ainda este mês o estudo de viabilidade da usina de Santo Antônio, que ficará a seis quilômetros da capital de Rondônia.

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Juntas, Jirau e Santo Antônio terão potencial para produzir 6,3 mil megawatts de energia elétrica, o suficiente para tirar Rondônia e Acre da dependência da energia térmica. A matriz energética nos dois estados é, majoritariamente, o diesel, mais caro e poluente. "Isso corresponde a, pelo menos, 8% da capacidade instalada no Brasil, que é de 80 mil MW", explicou o engenheiro da Superintendência de Empreendimentos de Geração de Furnas, Marcio Arantes.

Os estudos de impacto ambiental e avaliação estratégica de desenvolvimento das duas usinas estão em andamento e o EIA/RIMA será entregue em março ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Com isso, a previsão para o início das obras é junho de 2006. "Jirau começa a gerar energia com três anos e meio de obra e Santo Antônio depois de quatro anos e meio", afirmou Arantes. As obras devem durar de oito a dez anos.

Furnas e a construtora Odebrecht esperam a autorização para começar os estudos de inventário e de viabilidade das outras duas usinas que farão parte do complexo no rio Madeira. Uma delas será a segunda usina binacional com a participação do Brasil. A obra está previamente programada para o município de Guajará Mirim, em Rondônia, na fronteira com a Bolívia. A outra usina será construída em território boliviano, em Cachuera Esperanza. Estudos indicam que a usina Guajará poderá gerar 3000 MW e a usina boliviana algo em torno de 600 MW.

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Com a criação da malha hidroviária, a produção de soja do Centro-Oeste, por exemplo, poderia ser escoada pelo Peru, vizinho a oeste da Bolívia. "Isso daria uma economia de 3,5 mil milhas náuticas, correspondentes à volta que se dá para escoar a produção de soja para o mercado asiático, que sai pelos portos de Santos ou Paranaguá, em geral, e vai pela Terra do Fogo ao Sul ou pelo Canal do Panamá, ao Norte do país", observou Arantes. Outro benefício da malha hidroviária, conforme analisou José Bonifácio Pinto Júnior, diretor de contratos da Odebrecht, é o desafogamento da malha rodoviária no Sudeste, Centro-Oeste e Sul do país, por onde passa grande parte da produção industrial e agrícola exportada pelo Brasil.