Garantem os governistas da Comissão Mista de Orçamento que o presidente da República não tenciona vetar a proposta aprovada de aumento do salário mínimo dos atuais R$ 350 para R$ 375, a partir de abril próximo. A elevação será de 7%, mas vai representar um aumento de gastos da Previdência de R$ 1,5 bilhão. As centrais sindicais pleiteavam R$ 420.
A proposta original de R$ 375 havia sido rebaixada pela equipe econômica do governo para R$ 367, mas o senador Leomar Quintanilha (PCdoB-TO), no relatório setorial apresentado à comissão insistiu no valor anterior, aceito pela maioria. O aumento não será grande, mas mesmo assim constitui enorme fardo sobre as contas públicas, sobretudo no que tange à Previdência Social e seu monumental déficit de R$ 42 bilhões em 2006. A projeção para o próximo exercício é que o rombo bata nos R$ 46 bilhões.
Os sindicalistas alegaram que o aumento para R$ 420, dando mais dinheiro aos trabalhadores, traria em si o efeito concomitante da elevação do consumo e, assim, a arrecadação de tributos também aumentaria, tornando menos justificada a recorrente choradeira do governo, cada vez que se discute o salário mínimo. Segundo o Dieese, a economia seria beneficiada com a injeção de R$ 39,1 bilhões, afinal, um apreciável aporte ao mundo dos negócios.
Fato digno de menção é a saia justa do governo Lula em dificultar o aumento real do salário mínimo, quando essa sempre foi sua bandeira antes de assumir o poder. Todos recordam as batalhas homéricas pelo aumento do menor salário, travadas por parlamentares petistas nas comissões e no plenário.
Ao deixar de ser estilingue para assumir a condição de telhado de vidro, o governo chefiado por Luiz Inácio, hoje convencido que após os 60 anos não é possível a ninguém conviver com a ideologia da juventude, não difere absolutamente dos seus antecessores, encarnando o acabrunhante papel de vilão dos menos favorecidos.
O raciocínio tortuoso do presidente, diga-se de passagem, além da extrema indigência factual, deixou muitos companheiros, outrora tão aguerridos na defesa dos trabalhadores, com a indiscutível aparência de encanecidos heróis sem causa.