A candidata do PSOL à presidência da República, senadora Heloísa Helena, recebeu neste domingo (03), em São Joaquim do Monte, no agreste pernambucano, uma força extra para a sua candidatura: da Igreja. De braços dados com o carismático pároco da cidade, padre Pedro Antonio Filho, fez campanha em meio à "Romaria de Frei Damião", que atrai cerca de 70 mil fiéis de Pernambuco e Estados vizinhos.

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Heloísa Helena deu autógrafos, beijou, abraçou, recebeu palavras de apoio, durante o percurso de quase dois quilômetros da casa paroquial até o santuário, no alto, onde se destaca uma estátua de 3,5 metros de Frei Damião – missionário que morreu em 1997 e é considerado santo pelos sertanejos. Do seu outro lado, o pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo, em Maceió, padre Manoel Henrique, que a trouxe até o local onde a romaria a frei Damião ocorre há 13 anos. Ex-professor de padre Pedro, ele a acompanhou todo o tempo e foram embora juntos, de volta a Maceió, no início da tarde. Hoje a candidata estará em São Paulo.

O bispo da diocese de Caruaru, que abrange 19 municípios, dom Bernardino Marchió, não grudou na candidata, como os outros dois religiosos, mas minimizou o envolvimento do padre Pedro. "Ele a acompanhou como segurança, para dar apoio". Padre Pedro disse receber de braços abertos qualquer político que vá à cidade. Garantiu que nenhum sobe em palanque. Amigo de Heloísa Helena há seis anos, ele não divulgou seu voto, mas não escondeu sua simpatia. Preocupada, ela pediu aos repórteres: "Pelo amor de Deus não vão perseguir o padre Pedro".

Sem Loteamento

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Em entrevista na casa paroquial, Heloísa Helena afirmou que, se eleita, ocupará mais de 80% dos cargos de confiança do governo federal com servidores de carreira, quebrando uma prática de loteamento de cargos com partidos políticos.

Segundo ela, este percentual poderia ser maior – pois há competência dos servidores – mas considera importante a troca de experiências com o setor privado e movimentos sociais.

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"Setores importantes da sociedade encaram com naturalidade que o espaço público termine sendo apropriado pelas estruturas partidárias ou movimentos sociais vinculados a estas estruturas" observou, ao avaliar que "este tipo de promiscuidade na relação aparelho de Estado e estrutura partidária acaba criando problemas gravíssimos na eficácia na prestação do serviço público".

Ela acredita ser possível governar sem distribuição de cargos com os partidos políticos. "Pode ser mais trabalhoso, mas é possível", disse ela, ao apontar dois caminhos: "ou se implanta um novo modelo de governabilidade, partilhando responsabilidades com a sociedade, além das forças políticas, ou se continua a implementar o conhecido balcão de negócios sujos que fomenta, não por geração espontânea, mensaleiros e sanguessugas".

"Só existe Legislativo bandido quando o Executivo bandido é", frisou. Sobre o apoio do ex-presidente Collor, candidato ao Senado, à reeleição do presidente Lula, ela afirmou ser apenas mais um apoio em um Estado (Alagoas) onde Lula já tem o presidente do Congresso, 101 prefeitos, a maioria da bancada estadual, a bancada federal.

Desmascaramento – Ela preferiu não comentar a participação de crianças beneficiadas por programas federais no palanque do presidente Lula, na Cidade de Deus, no Rio. "Não quero comentar mais nada sobre esse rapaz", disse.

"Quero ter a oportunidade de debater com ele, bem pertinho, de forma civilizada, como o povo brasileiro quer, para que ele seja desmascarado". "Fora isso, não vou bater boca na imprensa com o presidente da República que tem 10 minutos na televisão (ela tem um minuto), tem estrutura para pagar, e estrutura de comunicação".

Quanto à possibilidade de ele não participar de debates, rebateu: "Espero que ele desça do seu troninho de arrogância e covardia política para, de forma civilizada e conseqüente, debater alternativas de desenvolvimento econômico e projetos de inclusão social".