A candidata do PSOL à Presidência da República, senadora Heloísa Helena (AL), disse que, caso saia vitoriosa na eleição de outubro, obrigará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a adotar medidas de controle de fluxo de capitais de investimento no período de transição. A medida seria uma forma de preservar a economia brasileira de ataques especulativos à moeda ou que provoquem descontrole das finanças públicas. "Se não controlar o fluxo de capitais, estará cometendo crime de lesa-pátria", afirmou a senadora depois de sabatina promovida pelo jornal Folha de S. Paulo, na capital paulista.
Segundo Heloísa, a Constituição brasileira reza que o País conta com soberania para administrar a política econômica e, por isso, o presidente poderá bloquear a fuga de capitais. "Só existem duas formas de haver fuga de capitais: ou o especulador saca seus reais e sai do País ou troca os reais por dólares. Quem define o volume de recursos a ser trocado por dólares é o Banco Central, que deve ser autônomo e independente do mercado financeiro", disse a candidata.
Heloísa Helena voltou a pregar o corte da Selic pela metade assim que assumir um eventual governo. Também afirmou que, se eleita, imediatamente estabeleceria o controle de fluxo dos investimentos estrangeiros no País. Mesmo nessas condições, ela insistiu que o câmbio seria "flutuante, porém monitorado" e reiterou que tais medidas não afugentariam os investidores do País. "Especuladores vão para a Turquia ou Polônia? Vão nada", opinou.
A entrevista foi marcada também pelas declarações de que ela não dependeria do Congresso Nacional para aprovar reformas, inclusive porque ela mesma não entende haver necessidade de mudança de legislação – exceção à reforma tributária. Disse que repactuaria o acordo de dívida entre União e Estados, como forma de recompensar os entes federados por eventuais perdas provocadas pela reforma tributária. Ela negou, entretanto, que a repactuação exija mudança legislativa, alegando que o acerto entre União e Estados foi feito por "resoluções".
Heloísa Helena recusou contar com o apoio de PSDB ou PT caso chegue ao segundo turno, alegando que os dois partidos são "face da mesma moeda" e que, na visão dela, ambos se uniriam contra a candidatura do PSOL.
Também foi tratado durante a entrevista o espinhoso tema da acusação de que ela votou contra a cassação do então senador pelo Distrito Federal, Luiz Estevão, em 2000, no conhecido escândalo de quebra de sigilo do painel de votos pelos senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (PSDB-DF). "Disseram que eu dormia com ele (Luiz Estevão). Fui para a tribuna para dizer que eu não durmo com homem rico e ordinário. Vomito em cima", defendeu-se. Segundo ela, não houve nenhuma lista sobre a votação e ela reiterou ter votado pela cassação de Estevão. "Entre a minha palavra e a do Antonio Carlos Magalhães, a minha vale mais", declarou.
A senadora mostrou também momentos de descontração, ao dizer que colocaria o Aerolula para visitação pública, uma vez que "todo mundo tem a maior curiosidade para saber que diabos tem lá dentro". Evitou defender a descriminalização das drogas, ao alegar que tal medida teria de ser tomada em conjunto com todas as nações, "para que o Brasil não se tornasse mercado consumidor", e posicionou-se contra a legalização do aborto, esclarecendo que não se tratava de buscar apoio de setores da Igreja, para os quais ela disse estar "nem aí", mas por questões de formação espiritual.
Por fim, ela reiterou respeitar mais o voto nulo do que a reeleição de Lula. "Respeito mais o voto nulo do que a legitimação do banditismo político", justificou.