Na véspera do feriado, um acidente pára a Marginal, em São Paulo. O filme é conhecido e se repetiu hoje. O acidente é que foi diferente. Um helicóptero em pane fez um pouso forçado na Marginal do Pinheiros, às 8h15, atingiu dois carros e foi parar debaixo da Ponte Eusébio Matoso. Ninguém se feriu, mas foi o início de um dia de caos em São Paulo. Às 10 horas havia 106 quilômetros de congestionamento – o normal para o horário é 57 km.
A pista ficou totalmente interditada para o resgate das vítimas, o piloto Leonardo Rebuffo, de 28 anos, e o repórter da Rádio Eldorado Geraldo Nunes, de 47. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) depois liberou duas das três faixas, até as 11h40, quando o helicóptero finalmente foi removido. Mas a cidade parou. A fila na Marginal chegou a 10 km, provocando um efeito em cascata no trânsito: congestionamentos no Túnel Ayrton Senna, Avenidas Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Túnel Maria Maluf e Avenida dos Bandeirantes, Rua da Consolação, Avenida Rebouças, Rua Augusta, Avenidas Europa e Cidade Jardim.
O taxista Antônio Azevedo estava perto da Eusébio Matoso quando o helicóptero desceu. "Vários curiosos desceram dos carros para ver o que aconteceu e a partir daí o trânsito parou" disse o motorista, que teve de enfrentar 20 minutos de pista completamente parada.
"São as contradições de São Paulo", disse Nunes, que há 16 anos sobrevoa diariamente a cidade para orientar motoristas. "Eu, que sempre trabalhei para a melhoria do trânsito, causei um grande congestionamento." A pane no helicóptero, modelo Robinson-22, aconteceu porque duas das três correias que ligam o motor ao rotor das hélices quebraram. O piloto tentou pousar em um heliponto no Jaguaré, mas não conseguiu chegar a tempo. Teve segundos para decidir onde descer.
Para pousar na pista expressa da Marginal, Rebuffo fez uma manobra chamada auto-rotação, que permite manter as hélices girando mesmo com o motor inoperante, só com a pressão exercida pelo peso do helicóptero. Na descida, o Robinson acertou dois carros. O primeiro, um Astra preto, foi tocado no teto pela pá do helicóptero e o segundo, um Versailles prateado, parou porque uma das pás bateu no pneu. Apesar do susto, nem a motorista do Astra, Cláudia Nishi, nem a fisioterapeuta Luciana Ruas Cardoso, do Versailles, se feriram.
Depois da queda, o empresário César Tavares Lugor, de 32 anos, ajudou a retirar o repórter, que é deficiente físico e ficou preso pelo cinto de segurança. "Por baixo não dava para puxá-lo. O piloto soltou o cinto e abri a porta superior."
O diretor da empresa RQ Serviços Aéreos Especializados – dona da Robinson -, José Luís Mattos, não soube dizer o que foi poderia ter causado o rompimento das correias. Mattos informou que o aparelho tinha apenas 152 horas de vôo desde a última revisão geral, em junho. "E no dia 28 de outubro ele também passou por uma inspeção, que fazemos a cada 50 horas de vôo."
O Robinson foi levado a um galpão no Campo de Marte, zona norte. Peritos do Departamento Civil de Aviação (DAC) vão investigar a causa do acidente. A previsão é de que em 90 dias o DAC já tenha uma avaliação. Antes disso, em 30 dias, deve ser divulgado o laudo do Instituto de Criminalista, que será usado num inquérito aberto no 14º Distrito Policial.
À tarde, o trânsito continuou ruim. Drama para os motoristas, lucro para o ambulante Antônio Raolino do Nascimento de 41 anos, que circulava entre os carros parados na Marginal do Tietê. "Deste jeito, parado, é bom pra nós, né?"
