Hegemonia de múmias

O afastamento voluntário do senador Edison Lobão (PMDB-MA) de seu mandato, como parte essencial das negociações de José Sarney, último figurante da confraria patrimonialista da política brasileira, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, levando a termo a comandita para assegurar o preenchimento da cota de cinco ministérios controlados pelo PMDB, se não trouxer nenhum ganho administrativo pelo absoluto desconhecimento técnico do setor a ele confiado, a política energética, ao menos terá o mérito de reacender pela enésima vez o debate sobre a extinção do cargo de suplentes de senador.

A discussão volta a ganhar destaque nos meios políticos, tendo em vista a ocupação da vaga até então em poder de Edison pai, de vez que seu primeiro suplente é o próprio filho, Edinho Lobão, cujo direito a ocupar a cadeira está sendo questionado pelo Ministério Público, sob a acusação de envolvimento em práticas empresariais abertamente destinadas a burlar o Fisco.

As acusações feitas ao empresário Edinho Lobão se referem à utilização de sócios fantasmas (laranjas) em alguns de seus empreendimentos comerciais, além de falsificação de documentos e enriquecimento ilícito. A nação, e sobretudo o Maranhão, mais uma vez foram colocados diante do terrível estigma que paira sobre políticos suspeitos de ações incompatíveis com a seriedade, e conduta irrepreensível de todos quantos se arrogam o direito à representação popular.

É oportuno também discutir a fundo a questão do vínculo familiar tão próximo entre alguns senadores e seus suplentes, como no caso em foco, nos quais se pereniza de forma façanhuda e perniciosa a mumificada hegemonia que é o intragável fruto tardio da visão retrógrada do autoritarismo político imposto pelos coronéis do sertão.

O próprio ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, um dos mais fiéis agregados da família Sarney desde os tempos em que redigia candentes artigos em defesa da ditadura para os jornais da extinta cadeia associada, picado por algum resquício de pudor, aventou a idéia do licenciamento de Edinho enquanto não ficar provada a sua inocência, propondo uma espécie de quarentena profilática com a finalidade de poupar a Casa da ampliação do enxovalhamento do recentíssimo escândalo Renan Calheiros.

No retorno das atividades do Senado em fevereiro, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) pretende apresentar um substitutivo às várias emendas que pedem a eliminação pura e simples das suplências, cuja única serventia é premiar parentes diretos ou ricaços que financiam as campanhas.

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