Ouvi relatos estarrecedores de mães tratando professores como criados, pagos para atender seus indisciplinados e arrogantes filhotes. Continuo a ouvir o execrável ditado ?quem não sabe, ensina?.
O governo federal iniciou sua intervenção na melhoria da qualificação dos professores e autorizou a criação de cursos de licenciaturas à distancia. Por que não faz o mesmo para melhorar o conhecimento e desempenho de advogados, reprovados aos milhares em testes da OAB, criando graduações à distância na área do Direito? Por que não o faz com a Medicina? E com as engenharias? A resposta seria porque tais profissões precisam de práticas presenciais? Não precisam delas os professores, que passarão do teclado do computador diretamente para a sala de aula, sem a oportunidade de vivenciar a ética, o respeito e os comportamentos de sua profissão em cursos presenciais, com seus professores? Mesmo que não sejam eles exemplos perfeitos de profissionais (aprendi a ser professora também com maus professores). Acredito que uma das razões da discriminação das licenciaturas está no diferente poder social (sobretudo financeiro) dessas profissões. É mais uma investida na desvalorização profissional do educador. Até porque a confusão entre ensinar, educar e fazer de conta que se ensina/educa está instalada na sociedade e se reflete nas decisões governamentais.
Em 22 de março passado, Hélio Schwartsman, em artigo na Folha Online, intitulado Tributo à estultícia, tratou do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE. Nesse texto, dominado pelo bom senso, há um trecho que vem ao encontro dos distúrbios e distorções da imagem da escola e de seus agentes: ?A ênfase do PDE recai corretamente sobre o ensino fundamental, mais especificamente sobre a alfabetização lingüística e matemática. E não há dúvida de que essa deve ser a prioridade. Nada tenho contra aulas de educação artística, capoeira, filosofia e culinária, mas, se o aluno não souber ler, escrever e realizar as seis operações algébricas, a escola não será para ele muito mais do que um grêmio recreativo. Certamente é muito melhor estar no colégio praticando esportes do que na rua iniciando-se nas artes do banditismo, mas a escola não pode ser apenas uma alternativa ao tráfico. É preciso, também, que ela ensine?.
Penso no desvio da função mais estrita da escola e a constatação dessa falha foi possível graças à realização de avaliações periódicas, como a Prova Brasil, que podem ajudar a ?tentar descobrir exatamente e em que ponto e por que? falhamos. As avaliações implicam critérios que, também eles históricos e imperfeitos, podem induzir a resultados distorcidos. No entanto, a série continuada de resultados medíocres (mal ultrapassam a metade da nota total) nos obriga a pensar o quanto precisamos investir em qualidade do conhecimento e exigências de aprendizagem para transformar o ?grêmio recreativo? e a ?reação alternativa ao tráfico? num lugar de ciência, interpretação crítica, arte e vida com dignidade.