Harmonia aparente

Está quase tudo pronto, faltando aqui e ali pequenos ajustes no âmbito interno das coligações partidárias formadas para o enfrentamento da prova das eleições municipais. Como em nenhuma outra ocasião anterior, sobretudo pela observação das contingências que desembocaram na celebração das composições políticas nas principais capitais do País, as eleições municipais desse ano já espargem intensos reflexos sobre a eleição seguinte, nesse caso, a eleição presidencial de 2010.

Os casos específicos de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, passam desde agora a configurar esboços prováveis da disposição do bloco de partidos alijados do poder, PSDB e DEM em primeiro lugar, de lutar com todas as forças para soldar o lançamento de um candidato majoritário que reúna condições de disputar a Presidência da República em pé de igualdade com o representante situacionista. Nesse momento, os dois nomes de maior expressão nesse cenário são os dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).

No plano imediato, Serra é o que parece ter maior dificuldade para conduzir o processo eleitoral na maior cidade do Estado, tendo em vista que seu sucessor na Prefeitura, Gilberto Kassab (DEM), é candidato à reeleição com apoio de uma parcela importante do PSDB, incluindo a maioria dos vereadores. Nessa penca de apoios, comenta-se que Kassab contaria, inclusive, embora por baixo dos panos, com a força do amigo José Serra. A complicação deve avultar porquanto o ex-governador Geraldo Alckmin, ex-candidato tucano à Presidência da República igualmente suplantado por Lula, também é candidato à Prefeitura paulistana.

É difícil compreender, embora o comportamento da maioria dos políticos brasileiros seja exatamente esse, que um dos maiores líderes atuais do PSDB e virtual candidato à Presidência da República em 2010, não conseguiu apaziguar os ânimos efervescentes em sua própria sacristia, perdendo a oportunidade de sacramentar uma chapa que satisfizesse as exigências e, mais que isso, as veleidades personalistas de tucanos e democratas.

Em Curitiba, posto que a eleição municipal não tenha o mesmo tipo de inserção nas tratativas em torno da disputa pela Presidência da República, os partidos de oposição ao governador Roberto Requião apoiaram sem restrições a chapa liderada pelo atual prefeito Beto Richa, continuando como candidato a vice-prefeito o médico Luciano Ducci (PSB). Abriram mão de candidaturas próprias o DEM, PDT, PP e PPS, antecipando a intenção de repetir a fórmula na eleição governamental de 2010, com a virtual candidatura do senador Osmar Dias (PDT).

A liderança do governador José Serra foi posta à prova e saiu arranhada, pois a convenção partidária homologou a candidatura de Alckmin com a margem folgada de 89,9% dos votos dos 1.344 delegados inscritos. Todavia, os analistas sustentam que a vantagem numérica não consegue ocultar a perigosa fratura que dividiu a tucanagem na capital do estado mais rico da Federação. Ou seja, a recíproca é verdadeira, mas a aparente tranqüilidade do ex-governador decerto sofrerá reveses mais ou menos embaraçosos no transcorrer da campanha.

Em Belo Horizonte, o candidato à Prefeitura Municipal referendado no último domingo é o ex-secretário Márcio Lacerda (PSB), ungido pela preferência do governador Aécio Neves e do atual prefeito Fernando Pimentel (PT), partido que indicou o candidato a vice. Ocorre que a executiva nacional do Partido dos Trabalhadores vetou a coligação com o PSDB, mesmo sem recusar a candidatura da preferência de Aécio e Pimentel, que à moda de Pilatos lavaram as mãos e ratificaram o compromisso de eleger Lacerda, apesar da ambigüidade ideológica petista, atualmente um valor tão desacreditado quanto uma nota de três reais.

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