Segundo levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), divulgado no início da semana, mais da metade das vagas ociosas em faculdades públicas do País é da área da educação. Das 12.506 vagas que não foram ocupadas em vestibulares em 2002, 6.641 são em licenciaturas. Para a secretária de educação da APP-Sindicato, Marlei Fernandes, os dados revelam que a desvalorização do magistério tem afastado os jovens da profissão.

Marlei comenta que desde 1998 a APP-Sindicato e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação têm realizado pesquisas na área que mostram a precariedade da profissão. Recentemente, um estudo feito pela Universidade Nacional de Brasília apontou que mais da metade dos docentes sofrem da Síndrome de Bornout. ?Diante de tantos problemas, eles continuam ministrando aulas sem nenhuma motivação?, analisa. Marlei diz que o desânimo afeta também os jovens, que não vêem incentivo para seguir a carreira.

Outro grande problema é a remuneração salarial. Marlei compara o que recebe um docente quando entra no quadro do Estado com outros profissionais que têm a mesma formação. ?Os professores recebem R$ 385 por 20 horas de atividade. Os demais profissionais começam ganhando R$ 1.525. É muita diferença. Existe dinheiro suficiente para investir na educação. O que falta é priorizar o ensino?, diz.

Situação no Sul

A ociosidade nas universidades públicas no Sul é menor, comparada com outras regiões do País. Das 1.357 vagas, 450 são da área da educação. No Nordeste, os números são bem maiores. Das 3.278 vagas, 2.820 se referem a formação de professores. Para Marlei, isso acontece porque os estados do Sul são mais estruturados, oferecendo melhores condições aos alunos e professores.

Marlei diz ainda que, se a situação continuar assim nos próximos 15 anos, devem faltar professores no País. A secretária afirma que dados do Ministério da Educação já apontam uma deficiência de 250 mil docentes no Ensino Fundamental e Médio. Segundo ela, no Paraná, a situação é um pouco melhor. Mas também há dificuldades no início do ano para preencher vagas, principalmente nas disciplinas de Matemática, Química e Física.

Na rede de ensino superior privada também é grande a ociosidade na área da educação. De um total de 482.507 vagas ociosas, 98 mil estão disponíveis na área da formação de docentes. Só perde para a área de Ciências Sociais, Negócios e Direito, que oferecem 216.236 vagas não preenchidas no vestibular.

Para Marlei, falta uma política nacional de valorização dos professores, que além de tratar a questão salarial, priorize a hora-atividade, redução do número de alunos nas salas de aula, tempo para capacitação e concurso público para dar estabilidade aos docentes.

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