Rio (AE) – O depoimento de Luiz Gushiken, ex-titular da Secretaria de Comunicação do governo, à CPI dos Correios não esclareceu a participação do ex-ministro no imbróglio entre os fundos de pensão e o grupo Opportunity, de Daniel Dantas. A briga, que se arrasta há mais de cinco anos, culminou com a destituição da empresa de Dantas da gestão de negócios de empresas que movimentam mais de R$ 10 bilhões por ano. A ponta de lança dos negócios é a Brasil Telecom, a terceira maior operadora de telefonia do País, que hoje administra um caixa de mais de R$ 3 bilhões.
Como principais acionistas nacionais do conjunto de seis empresas estão os fundos de pensão de estatais Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal). Em 2003, primeiro ano do governo do PT, os fundos conseguiram destituir na Justiça o Opportunity, depois de dezenas de ações judiciais. O Citibank, investidor estrangeiro, destituiu o grupo de Dantas alguns meses depois. O Opportunity está tentando reverter judicialmente a decisão.
Daniel Dantas vai prestar depoimento à CPI na próxima quarta-feira e deve confirmar aos parlamentares a mesma versão que vem confidenciando a interlocutores: a de que teria sofrido pressão de integrantes do governo para afastar-se da gestão das empresas de telefonia Brasil Telecom, Telemig e Amazônia Celular. O objetivo seria, na versão do banqueiro, facilitar a transferência da participação dos fundos a empresas que o governo já teria escolhido. A Brasil Telecom seria, segundo ele, entregue à Telemar.
Em e-mails que trocou com executivos do Citibank em 2003 Dantas não mencionou o nome de Gushiken, mas sim o do também ex-ministro José Dirceu e o do ex-presidente do Banco do Brasil, Cassio Casseb, como os emissários da decisão de governo. O banqueiro garante que a determinação não teria viés ideológico, mas de simples negócio, visando apoio financeiro para campanhas políticas.
Gushiken disse, na CPI, que somente iniciou contatos com os presidentes dos fundos a respeito do Opportunity depois de ter sido espionado pela Kroll, a mando do Opportunity e da executiva nomeada por Dantas para a presidência da Brasil Telecom, Carla Cico. A empreitada da Kroll revelou e-mails trocados por Gushiken com Luís Roberto Demarco, ex-sócio e atual desafeto de Dantas. Na verdade, o ex-ministro acompanhava de muito perto a contenda desde antes, mas estrategicamente manteve hoje a postura de simples observador do que classificou como "a maior briga societária" da história nacional.