Nem a mística de Roland Garros, o seu forte carisma de tricampeão e a emocionante força da sempre esperançosa torcida conseguiram evitar a derrota de Gustavo Kuerten na edição deste ano do torneio francês do Grand Slam. Com os problemas já esperados, como falta de preparo físico, ritmo e uma sequência desesperadora de erros, Guga perdeu para o espanhol David Sanchez por 6/3, 6/0, 4/6 e 6/1.
O resultado vai trazer como consequência uma queda vertiginosa no ranking. O tenista brasileiro, que já foi número 1 do mundo, deverá amargar um lugar acima dos 200. Mas, na realidade, não será penalizado, pois nas próximas competições poderá continuar usando o ranking de proteção, em número 30, o que garante sua classificação para os principais torneios do circuito.
"É sempre muito duro perder, especialmente em Roland Garros", disse Guga, que iguala agora em 2005 o seu pior resultado no torneio, que foi em 1996, justamente o ano de sua primeira participação. "Mas isso mostra que tenho um longo caminho pela frente. Há sete meses, quando fiz a segunda cirurgia (no quadril), tinha dúvidas se poderia jogar tênis novamente. Agora, pelo menos, tenho a chance de voltar a ficar 100%."
Curiosamente, apesar da frustração da derrota, Guga não se mostrou desanimado. Um jornalista italiano perguntou se um tricampeão de Roland Garros, ex-número 1 do mundo e acostumado a salas de entrevistas lotadas, não estaria agora mentalmente abalado, decepcionado e pensando em parar. "Não, muito pelo contrário. Quero ainda disputar uns três ou quatro Roland Garros. Não me importo em ver a sala de entrevistas com poucos jornalistas. Prefiro estar na final, com ou sem jornalistas", garantiu.
Para manter o foco e a motivação, Guga avisou que vai continuar por mais alguns dias em Paris. Quer aproveitar a presença do técnico argentino Hernan Gumy para manter seus treinamentos. "É importante sentir o clima de competição, especialmente nessa hora, para continuar motivado para os treinamentos. Agora, o buraco é mais embaixo. Sei que terei de trabalhar duro, pensar em voltar ao meu melhor, num momento em que tenho de investir na condição física."
Ele, inclusive, anunciou que só voltará a jogar em julho quando o Brasil recebe as Antilhas Holandesas, entre os dias 15 e 17, em Joinville, pela Copa Davis. Com isso, Guga descartou sua participação em Wimbledon, que acontece em junho.
A derrota para David Sanchez foi arrasadora. Só para se ter uma idéia, Guga cometeu um total de 83 erros não forçados, deu praticamente o jogo de graça para o espanhol, que só errou 23 bolas. Por isso, durante a partida o brasileiro chegava quase ao desespero. Olhava para os céus na esperança de que algo pudesse mudar. Mas seu jogo não mostrava consistência suficiente para sonhar com uma vitória.
A derrota de Guga nesta terça-feira marca um dia triste em Roland Garros, em que três ex-campeões foram eliminados, com as saídas do norte-americano Andre Agassi e do espanhol Albert Costa.
Saretta avança
A condição de lucky looser acabou se transformando num feliz momento para Flávio Saretta. Depois de perder na última rodada do qualifying e herdar uma vaga na chave principal de Roland Garros por causa da desistência de vários jogadores, o brasileiro passou pela estréia ao vencer o inglês Greg Rusedski por 6/2, 7/6 (9/7) e 6/3.
Diante de um adversário que tem o saque como sua maior arma e está mais acostumado às quadras rápidas do que propriamente o saibro, como Greg Rusedski, a sorte voltou a brilhar para Saretta. No tie break do segundo set, o tenista britânico tinha vantagem de 6 a 5 e falhou justamente na sua maior virtude. Cometeu duas duplas faltas e abriu as portas para o brasileiro vencer a série e depois dominar a partida.
"Foi um jogo muito diferente", definiu Saretta. "Senti dificuldades, pois o Rusedski não dá ritmo, os pontos costumam ser curtos e sofri um pouco com isso."
Agora, Flávio Saretta tem a chance de voltar a fazer uma boa campanha em Roland Garros, como há dois anos, quando superou o russo Yvgeny Kafelnikov e alcançou a terceira rodada da competição. Seu próximo adversario será o italiano Filippo Volandri, que nesta terça bateu o francês Cyril Saulnier por 6/0 6/2 e 6/1.
"O Volandri é um adversário que conheço bem, pois jogamos juntos desde os tempos de juvenil", contou Saretta, que só deverá voltar à quadra na quinta-feira.