O ataque terrorista às torres gêmeas de Nova York, um espetáculo dantesco que ceifou milhares de vidas e provocou uma reação legítima, mas recheada de irracionalidade dos Estados Unidos foi um sinal de que é possível uma guerra santa de muçulmanos contra cristãos e judeus. É evidente que não são só as divergências religiosas que motivariam essa temida guerra. Também interesses territoriais e econômicos que existem há muito, mas que ganham conteúdo explosivo quando o país mais poderoso do Ocidente é governado por um George Bush, líder a quem se pode atribuir qualidades, menos a do bom senso.
Desde que aconteceu o 11 de setembro, o presidente norte-americano já provocou duas guerras absurdas, a do Afeganistão e a do Iraque, ambas sob o pretexto de que lá estaria o terrorismo e se escondiam os terroristas. Acrescentou, para ser mais convincente, o desejo de que naqueles países fosse implantada a democracia que, sem dúvida, eles não conhecem.
O que não se imaginava era que a ousadia e temeridade de alguns chargistas da imprensa e editores de jornais do Ocidente poriam na fogueira lenha suficiente para que a guerra santa acabe sendo definitivamente declarada. Tudo começou na desenvolvida, pacífica e democrática Dinamarca, onde um órgão de imprensa publicou charges apresentando Maomé como um terrorista. Outros jornais de países europeus repetiram a dose, tudo em nome da liberdade de imprensa e sem que sopesassem o fato de que os países muçulmanos não são democracias e nem têm, em sua maioria, a divisão que conhecemos entre a igreja e o estado.
Para os muçulmanos, o que um jornal publica é responsabilidade do respectivo governo. Em seus países, em grande parte fundamentalistas, o governo e o clero se confundem. O islã é ao mesmo tempo estado e religião. Jamais entenderiam que o primeiro-ministro Anders Fogh Rasmussen, da Noruega, não é responsável pelo desrespeito à figura intocável do profeta Maomé. E imaginam que os chargistas e os jornais agiram com a permissão e até a mando dos governos dos países que ousaram as jocosas críticas que feriram a segunda figura mais sagrada dos muçulmanos, abaixo apenas de Alá.
Os ataques às embaixadas e consulados dinamarqueses e de outros países europeus, violentos e destruidores, tenta-se acabar com diplomacia. Mas que diplomacia pode ser usada quando o embate é entre duas correntes religiosas, dois mundos distintos e persistem interesses de outra ordem ainda não resolvidos?
Temos de esperar o inesperável, que é bom senso e sabedoria, principalmente do presidente George Bush, que comanda o país líder do Ocidente. Bom senso dos demais dirigentes dos países envolvidos e o uso extensivo da diplomacia para que os tumultos não se transformem na insana guerra santa. E ter consciência de que as reações espontâneas dos muçulmanos, certamente insufladas por interessados na violência e no terrorismo, tendem a traduzir violência muito maior que as cruzadas que os cristãos empreenderam, no passado, contra o islã. E rezar, em línguas ocidentais, árabe, turco, farsi e hebraico para que isso tudo que está acontecendo não seja a primeira batalha da absurda, mas possível guerra santa.
