Para dar a impressão que a briga é pra valer, governo e oposição agora se engalfinham em torno da pretensão desabusada dos operadores políticos do Palácio do Planalto, de abiscoitar tanto a presidência quanto a relatoria da CPMI dos Cartões. Ora, a Nação está cansada de saber que de acordo com a tradição observada pelo Congresso, governo e oposição sempre dividiram tais funções, até para manter o necessário equilíbrio entre as partes.
Implantar uma comissão de inquérito para investigar o uso irregular dos cartões corporativos na administração federal, vale dizer, no âmbito do governo central, colocando-a sob o guante de dois parlamentares selecionados da base governista desde que apresentem provas irrefutáveis que jamais tergiversaram sobre a inerrância da ladainha palaciana, é um procedimento tão ignominioso quanto é insolente o escárnio lançado à consciência dos cidadãos.
Aliás, o momento está a exigir com urgência um pronunciamento corajoso de parte da sociedade e, que o mesmo seja feito por suas mais respeitadas entidades representativas. O que, é, inaceitável é permanecer em silêncio diante de mais uma tentativa de varrer a escória para debaixo do tapete, como se os gravíssimos deslizes cometidos com os cartões fossem coisas corriqueiras e de somenos importância.
Ao contrário, a licenciosidade com que muitos servidores federais usaram o conveniente instrumento para desperdiçar dinheiro público de maneira irresponsável e perdulária, não pode passar em brancas nuvens. Não é preciso lembrar que todas as despesas cobertas com cartões corporativos feitas rigorosamente de acordo com as normas estabelecidas pelo governo – afinal, elas existem ou a imprensa também as inventou? – a ninguém devem preocupar.
Por outro lado, os contribuintes têm o direito sagrado de saber como o governo gasta o dinheiro arrecadado na forma de impostos, tributos e contribuições, cuja soma final está entre as maiores do mundo. A Nação precisa saber, por que não?, se o pagamento de equipamentos para educação física, autopeças, piscinas aquecidas, móveis luxuosos, refeições em restaurantes caríssimos, guarda efetivamente algum vínculo com a entidade fantasmagórica que vocalistas da corte insistem em chamar de segurança nacional.
O povo brasileiro, que em última análise trabalha, com indizível sacrifício pessoal de milhões, para financiar a farra de boi dos cartões corporativos, merece (e exige) respeito. Basta de bazófias, zombarias e arreganhos da mais genuína tática da desinformação. O povo quer a verdade, doa a quem doer!
