Embora o Brasil esteja muito distante, inclusive geograficamente, do provável conflito no Oriente Médio, certamente sentirá seus reflexos no âmbito interno.
A economia mundial há muito tempo vem dando sinais de desaceleração e o mercado financeiro ainda está abalado com os escândalos ocorridos nas empresas americanas. A invasão efetiva do Iraque tende a agravar ainda mais esse ambiente desfavorável, gerando um período de recessão em diversos países do mundo, inclusive nos próprios Estados Unidos.
Por conseguinte, e depen-dendo do tempo que durará o conflito, uma série de complicações deverão ser verificadas na economia do Brasil (e dos demais países em desenvolvimento), com muitas conseqüências negativas e duradouras, tais como:
“Diminuição do consumo interno norte-americano, ocasionando a perda de mercado para exportações nacionais;
“Fuga de capitais a partir da revisão das avaliações especulativas do risco e da instabilidade do país, que tendem a aumentar;
“Redução dos investimentos estrangeiros, decorrente de um temor generalizado gerado pela guerra;
“Aumento da dificuldade para obtenção de crédito externo, com a conseqüente diminuição dos investimentos internos nas áreas produtivas e sociais;
“Crescimento mais lento do PIB e aumento da inflação e dos juros.
A esses fatores devem ser acrescidos aqueles sintomas que já estão sendo sentidos pela população brasileira e que decorrem da mera expectativa da eclosão de uma guerra: aumento do dólar, instabilidade da bolsa e, principalmente, o aumento constante dos derivados de petróleo, como gasolina, diesel, gás, etc. Embora o presidente Bush insista em argumentar que a razão da guerra é a produção e utilização de armas de destruição em massa pelo governo iraquiano, o mundo inteiro sabe que a região do Oriente Médio possui mais de 60% das reservas de petróleo do mundo e que o Iraque é o segundo maior produtor mundial. Aí está a causa real da guerra e só o fato de existir uma possibilidade de conflitos naquela região já faz com que o produto seja comercializado acima do preço normal.
O governo brasileiro já demonstrou sua opção pela paz. Representantes do Brasil nos diversos organismos internacionais têm exortado os países envolvidos na controvérsia, principalmente os Estados Unidos, a respeitar os princípios internacionais de “solução pacífica dos litígios” e “proibição do uso ou ameaça da força”. É a decisão mais acertada e está de acordo com a tradição pacífica brasileira. Evitar a guerra contra o Iraque significa afastar os sintomas negativos relatados anteriormente e abrir mais espaço para a resolução dos problemas nacionais. Significa a opção brasileira pela batalha que o presidente Lula chamou pra si: a guerra contra a fome.
Tatyana Scheila Friedrich
é advogada, mestre pela UFPR, membro do Nupesul (Núcleo de Pesquisa em Direito Público do Mercosul) e professora de Direito Internacional Público no curso de Direito das Faculdades Curitiba e no curso de Relações Internacionais da Universidade Tuiuti do Paraná. E-mail: tatyanafriedrich@yahoo.com