Documento apresentado nesta segunda-feira (12)pelo Campo Majoritário, corrente majoritária do PT, admite que o partido enfrentará seu maior desafio em 2010, quando disputará uma eleição presidencial sem ter como candidato o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde a retomada das eleições diretas para a Presidência da República, em 1989, que o PT sempre concorreu com Lula. É com a perspectiva dessa nova realidade, a partir de 2010, que o Campo Majoritário já demonstra sua preocupação.

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"O PT sempre conviveu com duas frentes: o petismo e o lulismo. O petismo é uma determinada concepção política. E o lulismo é um grande fenômeno popular, de empatia e de enormes setores da sociedade. Em 2010, de alguma forma, esses dois fatores estarão desassociados. É determinante estudar formas pelas quais a herança do petismo e herança do lulismo se manterão articuladas como referência importante para dar continuidade aos primeiros oito anos de transformação do País – de maneira que a ‘revolução silenciosa’, tranqüila e democrática, se faça mais ruidosa", diz o texto que foi entregue à direção do partido para ser apresentado no 3º Congresso do PT, em julho, pela chapa Construindo um Novo Brasil.

A chapa é representada pelo Campo Majoritário, corrente petista integrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, entre outros. No sábado, Dirceu já tinha justamente falado sobre a preocupação com a sucessão presidencial e que a coalizão com o PMDB era justamente a chave para um desfecho bem-sucedido eleitoralmente desse processo. O ex-ministro admitiu, inclusive, que o candidato da coalizão não precisaria ser necessariamente um político integrante do PT.

A preocupação com os partidos de oposição também está presente no documento do Campo Majoritário. Referindo-se diretamente ao estrago eleitoral provocado no PT com a perda de capitais importantes, como São Paulo e Porto Alegre, nas eleições de 2004 ("as eleições de 2004 deixaram marcas profundas em nossa vida") a corrente propõe que sejam vedados acordos eleitorais com o PSDB, justamente o principal rival político do PT, para 2008 e 2010.

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"Propomos recusa expressa, pelo 3º Congresso, a eventuais alianças com o PSDB ou com qualquer outro partido neoliberal para a sucessão presidencial e eleições para os governos municipais e estaduais". O Campo também propõe fazer "oposição programática aos governos estaduais do PSDB e do PFL".

Disputa interna

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Ontem, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que o documento trazia também críticas pesadas ao que chama de "autismo político" e "perestroika dentro do PT", fazendo referência ao movimento interno liderado pelo ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro. O ministro propôs em fevereiro a "refundação" do PT, depois de constatar uma crise de corrupção "ética e programática" na legenda, atingida duramente nos dois últimos anos por sucessivas crises políticas, como o chamado escândalo do mensalão e pela produção do dossiê Vedoin (conjunto de papéis destinados a atacar candidaturas de políticos do PSDB).

Com o documento, os integrantes do Campo Majoritário aproveitam para rebater esses ataques internos e alertam para o risco de que uma eventual vitória do grupo político do ministro Tarso Genro conduzam o partido para uma espécie de gueto político-ideológico.

"Há também o risco de que, frente às dificuldades que vivemos, e que não devem ser subestimadas, surja um movimento que alie oportunismo, amnésia e um certo autismo político, propondo uma perestroika dentro do partido, tentando realizar uma ação quimioterápica para erradicar tudo aquilo que pareça disfuncional, focando apenas alguns alvos, transformando o 3º Congresso em um grande processo de expurgo político", diz o documento, citando a perestroika (literalmente, reconstrução em russo), uma das políticas adotadas na antiga União Soviética por Mikhail Gorbatchev, em 1985, para iniciar a reforma do sistema socialista, em colapso na ocasião.