Um grupo de organizações não-governamentais (ONGs) e agências da Organização das Nações Unidas (ONU), liderado pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social, lançou hoje, em São Paulo, o Pacto Empresarial pela Integridade e Contra a Corrupção, valendo-se o calendário da ONU de combate à prática, para reagir aos escândalos que atingiram o Brasil este ano.
"Com o escândalo político, notamos, pelo nosso relacionamento com os diversos segmentos, que havia apetite, indignação entre os empresários e vontade política para levarmos em frente o décimo princípio do Pacto Global", afirmou o presidente do Instituto Ethos de Responsabilidade, Ricardo Young.
O princípio estabelece que "as empresas devem combater a corrupção sob todas as suas formas, inclusive extorsão e propina".
A proposta, apresentada durante um evento na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), utiliza-se da celebração do Dia Internacional de Combate à Corrupção – estabelecido para hoje pelas Nações Unidas – para incentivar a adesão de empresas brasileiras ao combate à prática, especialmente, depois da crise política provocada pelas denúncias de formação de caixa dois de partidos em campanhas eleitorais e de pagamento do chamado "mensalão" para que deputados votassem a favor do governo.
"A proposta de combate à corrupção está inserida dentro de uma lógica de movimento empresarial, como aconteceu com os conceitos de qualidade e responsabilidade social, que passaram a fazer parte do espírito de comprometimento das empresas", argumentou.
O texto primário do Pacto Empresarial pela Integridade e Contra a Corrupção foi extraído de dois seminários realizados pelo Instituto Ethos, nos quais foram tratados, no primeiro, da corrupção praticada por empresas no relacionamento com a administração federal e, no segundo, da prática de fraude de companhias em relação ao mercado de consumo.
O Pacto Empresarial pela Integridade deverá ser concluído e lançado, oficialmente, em março para a adesão das empresas. Segundo o presidente do Ethos, ao aderir ao Pacto Empresarial, a companhia receberá informações e apoio técnico para combater, de forma preventiva, a prática corrupta.
Ao mesmo tempo, ganhará publicidade por assegurar que não pratica e tampouco aceita ações de corrupção. "Estabeleceremos uma plataforma mínima que aglutine as empresas" afirmou, ao estimar que caberá à imprensa e ao mercado consumidor monitorar o comportamento das companhias que aderirem ao pacto.
Numa terceira etapa, em médio prazo, Young informou que as organizações envolvidas no acordo pretendem criar um sistema de inteligência no combate à corrupção, por meio da propagação de uma página na internet, uma espécie de "ouvidoria pública", para sistematizar informações e denúncias que, depois, serão publicadas com o objetivo de orientar as empresas.
"As empresas não conhecem, em muitos casos, as práticas banais de corrupção e não conseguem, portanto, combater esta prática. Analisaremos os mecanismos, atuações, da mesma forma como se combate o crime organizado e a ação de quadrilhas", afirmou.
Embora otimista com a iniciativa e dizendo que tanto empresas micro e pequenas como gigantes multinacionais poderão assinar o entendimento, ele ressalvou que as entidades "não pretendem fazer milagre" de acabar com um sistema de corrupção secular num prazo curto.
"Não buscamos resultados para 2006 e nem 2007", adiantou ao dizer que a prática de caixa dois de campanha eleitoral é um exemplo de corrupção, mas que, com muita dificuldade, a proposta prevalecerá durante a eleição de 2006. "Atuaremos de forma sistemática e duradoura, com avanços progressivos", salientou.
