Brasília (AE) – Contra o hambúrguer, o feijão. Um grupo de estudantes de Brasília fez um protesto pacífico contra a presença do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, no Brasil. Eles invadiram a loja do Mc Donald’s que fica no Eixo Monumental, zona central da capital federal, e serviram um cardápio tipicamente brasileiro, composto por arroz, feijão preto, farofa, suco de frutas brasileiras e caju. A comida era oferecida a quem quisesse comer. "Com a gente, não precisa pagar nada", disse um manifestante. Cerca de 30 estudantes participaram do protesto, que, segundo eles, seria feito em outras lojas da cidade, mas sem a distribuição de comida.
A Polícia Federal (PF) foi chamada, mas os policias ficaram de lado de fora da lanchonete, acompanhando a manifestação, que foi pacífica. Eles chamaram o movimento de "Mcinfestação". Nenhum estudante quis se identificar, para, segundo eles, "não individualizar o movimento". Além das tradicionais faixas "Fora Bush" e "Sai daqui Bush", o grupo colou nas paredes da lanchonete cartazes criticando o governo americano. "Corrente: R$ 6,00. Máscara de Bush: R$ 5,00. Bandeira de Pirata: R$ 12,00. Transformar o McDonald’s num espaço anticapitalista não tem preço. Massacre", era a mensagem de um cartaz, numa referência a uma publicidade de cartão de crédito.
Em outros dois cartazes, os estudantes criticavam a política externa do governo norte-americano e alertavam para o risco de um acordo comercial com os EUA. "Em apenas quatro anos de Nafta (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio), o número de mexicanos vivendo em (situação de) pobreza ou de extrema pobreza cresceu 19%", informava a mensagem. A invasão das tropas americanas no Iraque também não escapou da fúria dos estudantes. "Até agora, mais de 27 mil iraquianos morreram com a invasão norte-americana o país", criticaram eles.
Durante a manifestação, o grupo também distribuiu uma carta aberta à sociedade intitulada: "Nossa dignidade nos leva à rebeldia". No texto, eles lembram as muitas manifestações contrárias a Bush. "Todos esses atos têm legitimidade em suas causas, ainda que diferenças e diversidade em suas táticas. Somamo-nos a esse grito que, cada um à sua voz, deixa claro nossa recusa não só ao dr. George, mas também a todas as grandes empresas e corporações transnacionais que tanto se beneficiam de suas decisões", lembraram os estudantes.
O grupo admite, no texto, que poucas pessoas participaram de atos contra Bush na capital federal, que teve um domingo tranqüilo se comparado ao balneário argentino de Mar del Plata, onde vários manifestantes protestaram contra a presença do líder americano. Algumas pessoas, disseram eles, optaram por não se juntar "ao ato de rebeldia enquanto o doutor W. Bush passeia por palácios, salões e churrascos governamentais da cidade". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu um churrasco a Bush. "Estes nossos companheiros, assim como nós, discordam de uma ordem mundial na qual a democracia se caracteriza por uma prática nula, passiva, e, conseqüentemente, inexistente. Uma ordem na qual a Justiça é sinônimo de cadeia e perseguição aos que passam fome em favelas e campos do mundo inteiro", disseram os manifestantes.
Um estudante que se identificou como Igor admitiu que os resultados do protesto serão nulos. "Sabemos que não vamos conseguir nada, mas somos contra a guerra do Iraque", disse. Assinam o documento os seguintes movimentos: Coletivo de Solidariedade e Ação Zapatista, Centro de Mídia Independente, Coletivo de Resistência AnarcoPunk, Grupo de Teatro Rosa Negra e Movimento Passe Livre.