Os metalúrgicos da Volkswagem-Audi de São José dos Pinhais decidiram suspender as paralisações em apoio aos trabalhadores do ABC que seriam realizadas hoje (31). Uma hora antes da proposta ser votada, a montadora propôs a dispensa remunerada dos funcionários da planta por dois dias, para compensação em apenas um dia de trabalho, em 30 de setembro. Folga dois, compensa um. Motivo: a paralisação em São Bernardo do Campo afetou o fornecimento de peças no Paraná e, consequentemente, a produção. A proposta da dispensa foi votada em assembléia a aprovada.
?Se optasse pela paralisação, o trabalhador do Paraná apenas ajudaria e montadora, pois as horas paradas não seriam pagas. Já com o acordo de folga e compensação, a empresa vai remunerar um dia não trabalhado, o que aumenta o poder de fogo e fortalece a mobilização no ABC?, explica Nelson Silva de Souza, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC).
Cerca de 1,8 mil trabalhadores do ABC já receberam cartas avisando que serão demitidos a partir de 21 de novembro, quanto acaba o acordo de estabilidade de emprego na unidade.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, Sérgio Butka, lembra, entretanto, que o quadro da unidade paranaense é bem diferente do paulista. De acordo com levantamentos da própria Volkswagen, a planta de São José dos Pinhais-PR é uma das mais produtivas do mundo. Oscila entre a primeira e a segunda colocação neste quesito, alternando a posição com a unidade de Bratislava, capital da Eslováquia. ?Não há motivo para reestruturação no PR?, afirma Butka.
Contratos de venda firmados pela empresa garantem produção em alta até o final deste ano. São produzidos cerca de 810 carros por dia, em três turnos de trabalho. Os 3,8 mil trabalhadores do PR atuam hoje com nível praticamente zero de ociosidade.
Quando oficializou seu plano de reestruturação, em junho, a Volks cogitou demitir até 900 trabalhadores do PR a partir de janeiro de 2007, caso ocorram conjunturas econômicas extremamente desfavoráveis. Após a oficialização, os trabalhadores de SJP decidiram, por unanimidade, não discutir a flexibilização com a montadora. ?As propostas apresentadas pela empresa contemplavam apenas o interesse da montadora, sem qualquer contrapartida?, explica Butka. Por enquanto, não há discussão nem negociação alguma com a Volks sobre as possíveis demissões. ?Só vamos discutir em cima de algo concreto, se um dia vier mesmo a ocorrer, e não em cima de hipóteses e possibilidades?, afirma o presidente do SMC, Sérgio Butka.
Produção no Paraná
A unidade do Paraná produz os veículos Fox (exportação e nacional), Golf (exportação e nacional) e Audi A3. A produção atual é de 730 veículos por dia, com 3,8 mil trabalhadores, sendo 3,2 mil do chão de fábrica. O Golf é destinado 50% ao mercado interno e 50% ao externo, com vendas para a América Latina. O Fox é 25% para o mercado interno e 75% para a Europa. A produção do Fox ocupa 78% da mão-de-obra empregada na fábrica, contra 20% do Golf e 2% do Audi A3.
Situação diferenciada
Considerada uma das mais modernas do mundo, a planta do Paraná está entre as mais produtivas do mundo. O índice de robotização é alto. A Unidade de São Bernardo, com 12 mil trabalhadores, está produzindo 940 veículos / dia, contra 810 produzidos no PR com 3,8 mil funcionários. A média salarial do PR é de R$ 1,6 mil, contra R$ 2,5 mil em SP, embora o nível de qualificação seja maior. Um trabalhador de pintura que recebe salário de R$ 1,9 mil no PR recebe R$ 2,9 mil no ABC, desempenhando a mesma função.
Insatisfação dos trabalhadores
Outro fator que diferencia a planta do Paraná é a insatisfação e o perfil do trabalhador. Cerca de 50% dos trabalhadores estão insatisfeitos com o emprego. Outros 10% estão muito insatisfeitos. Os principais motivos são problemas com o estilo rígido de gestão de recursos humanos adotado pela montadora, o ritmo intenso de trabalho ? que causa alto índice de doenças ocupacionais – e a existência de outras perspectivas de vida. Cerca de 30% dos trabalhadores do chão de fábrica já têm curso superior completo ou estão cursando ? os 70% restantes têm ensino médio completo. Muitos têm outras perspectivas de vida que não seguir carreira em linha de montagem. A idade média na linha de montagem é de 28 anos.
Doenças ocupacionais
A Volks-Audi do PR tem cerca de 400 trabalhadores afastados por doença ocupacional. Destes, 70% ainda lutam para conseguir o reconhecimento no Instituto Nacional de Securidade Social (INSS), ou seja, estão recebendo auxílio doença-comum. A montadora gera dificuldades burocráticas para não reconhecer as doenças do trabalho. Uma Força Tarefa composta por Sindicato, Governo do Estado, Delegacia Regional do Trabalho, INSS, Secretaria Estadual da Saúde e Secretaria Estadual do Trabalho está investigando a montadora para descobrir e combater os motivos do alto índice de doenças do trabalho.