A greve de servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que teve início na segunda quinzena de fevereiro, começa a deixar em polvorosa a indústria farmacêutica. A interrupção dos serviços de fiscais impede que matéria-prima para medicamento importada seja liberada e usada na produção. Segundo algumas empresas, a situação começa a ficar crítica.
O tom mais alarmista é dado pelo diretor corporativo da Novartis, Nelson Mussolini. "Atingimos um ponto crítico. Deixamos de distribuir medicamentos para doenças importantes, como Alzheimer, esquizofrenia e para impedir a rejeição de órgãos transplantados", afirmou.
A Novartis afirma que já deixou de distribuir medicamentos para o tratamento do mal de Alzheimer para as Secretaria Estaduais de Saúde de São Paulo, Pernambuco, Paraná e Ceará. Em São Paulo, medicamentos para tratar esquizofrenia também não foram fornecidos. A empresa também não conseguiu cumprir o cronograma para entrega de remédios usados em transplantados para a Secretaria do Rio Grande do Sul.
A empresa Boehringer já enfrenta problemas na produção. No entanto, segundo o diretor Felix Figols, por enquanto a situação ainda é contornável. "Estamos com a produção em ritmo mais baixo que o normal. Mas assim que houver liberação da matéria-prima, concentraremos a produção para abastecer o mercado com produtos mais urgentes", afirmou.
As reclamações começaram a se intensificar há duas semanas. Um bom tempo depois de a paralisação ter começado. A greve teve início com os servidores da agência, em fevereiro. O movimento ganhou corpo, no entanto, no mês seguinte, quando também parou o Sindagências, que reúne servidores de várias agências reguladoras.
As reivindicações passam por questões salariais. Os servidores da agência querem equiparação. "Há salários distintos: para funcionários cedidos para a agência, para funcionários transferidos e para concursados", observa Edelvino Albuquerque da Silva, do comando de greve. Embora a paralisação já venha há bastante tempo, somente na semana passada o governo fez a primeira proposta de acordo, recusada pelos grevistas.
"Não há perspectivas de solução rápida", admite Albuquerque da Silva. Ele desmente, no entanto, as previsões feitas pela indústria farmacêutica. Albuquerque da Silva afirma que 30% dos funcionários estão trabalhando justamente para evitar desabastecimento. "Se houver qualquer ameaça, faremos um esforço concentrado e liberaremos a matéria-prima", afirmou.
O gerente da Anvisa, Paulo Ricardo Nunes, disse confiar na avaliação dos grevistas: "Eles sabem fazer tal controle. Por enquanto, não há desabastecimento para o consumidor. E se eles dizem que vão agir antes de que esse risco apareça, está dito."
Nesta semana, os hemocentros do País também passaram a afirmar que dentro de pouco tempo haverá desabastecimento. A Fundação Hemocentro de São Paulo, no entanto, afirma ter estoques para um mês. Por enquanto, segundo sua Assessoria de Imprensa, não houve pedidos de empréstimos de material por parte de outros hemocentros.