Participantes de um encontro mundial de ativistas do Greenpeace, realizado em Matinhos, no litoral do Paraná, informaram nesta segunda-feira (28), durante reunião com o governador Roberto Requião no Palácio Iguaçu, que o Paraná está lucrando ao dizer não aos Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Segundo o grupo, isso ocorre porque a rejeição aos transgênicos vem crescendo em todo mundo.
"O encontro simboliza a soma de esforços do Greenpeace e do governo do Paraná. O Estado se une à resistência que a entidade faz contra a extinção da soberania alimentar no mundo inteiro", afirmou o governador Roberto Requião durante uma entrevista coletiva que reuniu 26 técnicos de 20 países.
O consenso entre os militantes é de que a rejeição aos transgênicos cresce na mesma proporção em que a informação chega aos produtores e consumidores. A busca pelo esclarecimento, afirmaram os ativistas, ocorre principalmente em mercados emergentes como a China e outros países asiáticos.
A maioria os países europeus que fazem parte da União Européia ? disseram ainda – já rejeita os transgênicos para consumo humano e seus consumidores pressionam as autoridades governamentais para aplicar restrições aos produtos destinados à ração animal.
Segundo o representante da China, Angus Lam, a região com maior produção de soja, o noroeste do país, já declarou ser área livre de transgênicos. A pressão dos consumidores também fez com que os 52 principais fabricantes parassem de utilizar matéria-prima transgênica.
Ao confirmar que o país vai assinar o Protocolo de Cartagena ? que defende o princípio da precaução em relação à engenharia genética ? Angus Lam considerou a rejeição benéfica ao Brasil, que responde por 30% dos 18 milhões de toneladas de soja importadas pela China.
"É importante que o Brasil esteja atento a esta realidade, porque as leis tendem a se tornar mais rigorosas e outras regiões planejam ser área livre de OGMs nos próximos cinco anos", alertou ainda.
Desde 2002, quando passou a fazer parte da Organização Mundial do Comércio (OMC), a China tem elaborado leis de proteção à soja convencional. "O trânsito do grão transgênico é proibido e a soja modificada que entra no país deve ser processada ainda no porto", explicou o engenheiro agrônomo do Greenpeace, Ventura Barbeiro
União Européia
Para o chefe de análise de mercado do Greenpeace Internacional, Lindsay Keenan, a rejeição já consolidada na Europa para os alimentos transgênicos destinados ao consumo humano e para ração animal vai aumentar na medida em que mais países se tornam integrantes da União Européia.
Pesquisa lembrada por Keenan revela que 57 empresas de um grupo de 60, responsáveis por 70% do mercado na União Européia, confirmaram que não utilizam OGMs em razão da pressão do consumidor dos seus países.
"Haverá um aumento na demanda pela soja convencional. Se o Brasil não assumir esta posição de fornecedor, outro país o fará", ressaltou. Lindsay destacou ainda que apenas as empresas que já se recusam a utilizar transgênicos movimentam cerca de 650 bilhões de euros.
As vantagens econômicas da opção pela agricultura convencional também foram destacadas pelo diretor da campanha de engenharia genética da Alemanha, Stephan Flothmann. Ele apontou números de uma pesquisa que indica a preocupação do consumidor alemão com a ração animal. "Menos de 1% das empresas nacionais utiliza OGMs como matéria-prima e 94% dos consumidores exigem a rotulagem dos produtos, mesmo de outros países", revelou.
"Esta pesquisa revela um novo nicho de mercado porque aponta que 44% dos consumidores pagariam até 10 centavos de euro a mais pelo leite orgânico, ou seja o leite produzido pelo gado de pastagens naturais", afirmou. "É uma variedade de leite que cresceu 20% no último ano".