São Paulo (AE) – As gravações das conversas entre o ex-goleiro Edson Cholbi Nascimento, o Edinho, e o suposto traficante Ronaldo Duarte Barsotti de Freitas, o Naldinho, mostram que ambos estavam montando uma empresa. Nas gravações telefônicas feitas pelo Departamento de Investigações sobre Narcotráfico (Denarc) e autorizada pela Justiça, os dois discutem quais serão os "laranjas" e quem será responsável pela empresa, o primeiro de "outros mil negócios" que o filho de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, pretendia montar com o traficante. "Mas esse o Ibrahim já resolveu (…). Nós vamos montar uma outra empresa nossa, que vai ser uma trading, que vai fazer a compra e venda do negócio, que vai a nota fiscal, que vai tudo. Então não tem problema, entende? É um barato que ele não teve como ver", diz Edinho em uma das gravações quando é questionado por Naldinho sobre a participação do traficante na parceria.
Edinho se explica ao sócio e Naldinho reclama não ter sido avisado do problema. Edinho diz ao traficante que o advogado Nicolau Aum, o Nick, cuidava dos interesses de Naldinho na sociedade. Segundo o delegado Ivaney Cayres de Souza, diretor do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), Aum é o responsável pela lavagem de dinheiro do traficante.
No fim da conversa, o filho de Pelé diz a Naldinho: "Pô, a gente tá se conhecendo nesse mundo dos negócios e, por mim, eu só queria que o teu tem que ser igual ao meu, mas você tem o seu lado, a sua estrutura e nós respeitamos."
Nas gravações, Naldinho comenta a guerra que estava travando contra os integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). O traficante teve ligação com o PCC e com o Comando Vermelho, mas seu padrinho no PCC, Sandro Henrique de Souza, o Gulu, foi morto a mando do líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, em 28 de abril. Naldinho seria o próximo a ser executado, segundo a polícia.
Em uma das conversas com seu braço direito no tráfico de drogas, Ademir Carlos Oliveira, o Pezão, Naldinho conta o que ia dizer para Robson Lima Ferreira, o Marcolinha, um dos maiores aliados de Marcola: "Se o Marcolinha me ligar eu vou falar (…) eu não tô nem aí pra você. Pega eu, mala. Pega eu. Não pegou eu, não pegou ninguém e se boiar na minha frente eu vou matar." Os dois grupos disputavam os pontos de droga no litoral do Estado de São Paulo. Naldinho também comenta com Pezão que os bailes funk da Baixada estão vazios depois do começo da guerra. "Quando a gente der a resposta, (…) será a vez deles de ficar em pânico."
As conversas gravadas em oito meses de investigação foram resultado de escutas em 182 telefones. "Para nós, não há dúvida da participação deles no tráfico e do Edinho na associação para o tráfico", afirmou o delegado Pedro Pórrio, do Denarc.