A rejeição aos transgênicos tem garantido a ampliação de mercados a 13 grandes empresas nacionais e estrangeiras que atuam no Brasil. O documento ?Relatório Brasileiro de Mercado: a Indústria de Alimentos e os Transgênicos?, divulgado na semana passada pelo Greenpeace, aponta que essa decisão garantiu bons negócios. O estudo se baseia no depoimento de representantes de dez indústrias (Batavo, Imcopa, Brejeiro, Caramuru, Ferrero, Josapar, Perdigão, Sadia, Sakura e Unilever) e três redes varejistas (Carrefour, Pão de Açúcar e Sonae).

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Um dos casos mais interessantes do relatório é o da Imcopa – Importação, Exportação e Indústria de Óleos Ltda, que tem fábricas em Ponta Grossa e Araucária e previsão de faturamento de R$ 1 bilhão neste ano. A recusa à soja transgênica aconteceu em 1998. De lá pra cá a produção se multiplicou oito vezes, de 250 mil para 2 milhões de toneladas por ano, o que confirma o acerto da decisão. Hoje a empresa exporta 98% de sua produção. ?A grande vantagem é conseguirmos escapar da concorrência das multinacionais. Nossos clientes exigem não-transgênicos?, afirma no relatório José Enrique Traver, diretor da Imcopa.

Os depoimentos dos representantes das empresas deixam claro que o medo de perder mercados, principalmente no exterior, é a principal justificativa para recusar os transgênicos. Desde 2002, quando o Greenpeace encomendou a primeira pesquisa sobre a opinião dos consumidores brasileiros a respeito dos transgênicos, o índice de rejeição a esses produtos é superior a 70%. No Japão a recusa é de 68%. Na Europa, de quase 100%; na Rússia, de 95%; na China, de 57%.

Outra empresa paranaense a rejeitar os transgênicos é a Batávia, que tem fábricas em Concórdia (SC) e Carambeí (PR). Toda a linha de produtos de soja é livre de ingredientes geneticamente modificados. A empresa só compra matéria-prima de fornecedores capazes de garantir que a soja é pura. Os derivados de carne produzidos pela Perdigão, a outra marca da empresa, também estão livres de transgênicos.

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A Caramuru, tem sede em Goiás e instalações no Paraná, Mato Grosso, São Paulo, Bahia, Pernambuco e Ceará, processa um milhão de toneladas de soja por ano. Nem um grão é geneticamente modificado. Em 2000 a empresa decidiu rejeitar os transgênicos, para atender à exigência de clientes, principalmente europeus, e garantir um diferencial de mercado. ?Estabelecemos a política de não receber soja transgênica nas nossas unidades armazenadoras e fábricas, acordada com os produtores por meio de assinatura de contratos de fornecimento?, afirma no relatório a coordenadora de Garantia Qualidade da Caramuru, Edwirges Michelon.

A rede francesa Carrefour é outro ?gigante? que decidiu não associar sua marca aos transgênicos. Os produtos com a marca Carrefour não contêm ingredientes geneticamente modificados. ?Todos os contratos com nossos fornecedores de matérias-primas contêm essa exigência?, afirma Pablo Rego, gerente de marcas próprias do Carrefour. O grupo brasileiro Pão de Açúcar, que faturou R$ 16,1 bilhões no ano passado, segue a mesma política nos seus 64 produtos com marca própria. O mesmo vale para o grupo Sonae.

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O relatório do Greenpeace conclui que não há dificuldades técnicas insuperáveis para as empresas garantirem a seus consumidores produtos livres de transgênicos. Apesar do número relativamente pequeno de empresas que recusam os transgênicos, o Geenpeace considera que, por sua liderança no mercado, elas podem influenciar outras organizações a seguirem o mesmo caminho. Isso parece já estar acontecendo. Das 109 empresas listadas no ?Guia do Consumidor ? Lista de Produtos Com e Sem Transgênicos?, feita pelo Greenpeace, 69 rejeitam os transgênicos em suas linhas de produção ? em 2002 só 14 empresas tinham tomado essa decisão.