?Os Estados Unidos estão pisando no nosso calo?, observou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao apreciar o cenário resultante do veto do governo George W. Bush à venda de aviões fabricados pela Embraer à Venezuela.
A alegação norte-americana para lastrear o embargo, na verdade, uma tentativa sobejamente identificada com o histórico intervencionismo de Washington nos países de economia periférica, é que a empresa brasileira utiliza tecnologia norte-americana nos aviões que saem de suas linhas de montagem.
Tendo em vista que o negócio está sendo pretendido por um personagem hostil à política de Bush, Hugo Chávez, que não faz questão de ocultar sua entranhada aversão a tudo que tem origem na Casa Branca, a retaliação foi bastante rápida.
O ministro Celso Amorim entrou em ação para encontrar pela via diplomática uma solução harmoniosa, mas ao que parece a decisão dos Estados Unidos é irreversível. A resposta lacônica enviada pela secretária de Estado Condoleezza Rice, fugindo ao exame mais profundo do assunto, torna evidente a disposição de invocar a teoria do grande porrete.
A política de Washington para os países pobres ou em desenvolvimento segue a lógica hegemônica que sempre pautou as linhas programáticas do Departamento de Estado e, nesse aspecto, o presidente Hugo Chávez está pagando o preço de sua eqüidistância, para muitos analistas internacionais uma insolência que a seu tempo seria cobrada com rigor.
No início de sua administração, o presidente Lula abriu o carnê de declarações retumbantes, a maioria fundada num protagonismo até agora de escassos resultados, afirmando que ?quando acordo invocado pego o telefone e ligo para o presidente Bush?.
Não seria esse o momento azado para completar a desejada conexão telefônica, à vista da insuportável interveniência na economia interna de um país irmão?
Decerto o presidente Bush não se negaria a conversar com Lula sobre o tema candente, embora quase todos possam imaginar qual seria o desfecho do diálogo entre os dois chefes de Estado.
O grande porrete sempre ao alcance das mãos dos governantes norte-americanos e, por extensão, dos operadores do grande capital, que nos últimos tempos caiu com sangüinário estrépito sobre o Iraque e agora ameaça também o Irã, balança sobre o aprazível país caribenho.