São Paulo, 04 (AE) – Cem metros de um muro da Rua Mauá, no centro, foram grafitados ontem por jovens da organização não-governamental Projeto Quixote. Os grafiteiros, em média com 16 anos de idade, retrataram a realidade dos adolescentes que vivem na chamada Cracolândia, em celebração ao Dia da Criança Vítima de Agressão. O muro pertence à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e até a semana passada estava pichado.
A ação foi a primeira em um programa de longo prazo. Três carcaças de ônibus, que antes abrigavam bibliotecas itinerantes, hoje desativadas, podem ser transformadas em espaços para oficinas de hip hop. Elas estão em um terreno do governo estadual que serve de estacionamento para o antigo Dops. O projeto arquitetônico, para adaptar os ônibus, pode ser doado por alunos da Escola da Cidade. A Secretaria Estadual de Cultura também estuda a possibilidade de ceder um espaço na região para as oficinas de hip hop. O projeto pretende, também, levar atendimento médico, psicológico e social aos meninos e meninas da Cracolândia.
“O hip hop é uma manifestação cultural que tem a legitimidade de ter nascido dos próprios jovens da periferia. Fala sobre a vida deles, os conflitos e angústias, sem intermediários. Portanto, é um instrumento muito eficiente de aproximação e transformação”, diz o psicoterapeuta Auro Lecher, da Unifesp, coordenador do Quixote.
Grafitagem e break resumem o que Alessandro Silva, de 18 anos no Quixote há dois, mais gosta de fazer. “As pessoas precisam querer ser ajudadas, ter força de vontade, senão não adianta”, disse. Cleiton Rodrigues Pereira, de 16, saiu ontem bem cedo de São Miguel Paulista, na zona leste, para chegar a tempo de dar pinceladas no muro da CPTM. “Gosto de fazer esse tipo de coisa porque tenho certeza que o convívio com a arte ajuda a superar qualquer problema.”
A iniciativa está vinculada vinculada ao Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e é mantida pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo. Hoje, são mais de 3 mil crianças atendidas.
NÚMEROS – Segundo levantamento do projeto Travessia, além de uma população flutuante, existem pelo menos 35 crianças e jovens de 9 a 18 anos fixados na Cracolândia, alguns morando em prédios abandonados e outros pelas calçadas. Mais de 30% são meninas. Todos usam drogas e a maioria está envolvida com o comércio de crack. Eles são aliciados por traficantes adultos, que comandam o “ponto”.
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