Graças e desgraças eleitorais

Com ideais capazes de influir em todas as almas, um povo prospera. Grande parte do mundo tentou substituir antigas ditaduras dos reis e deuses por outras, inclusive proletárias. A história catalogou imponentes formas de governos, mesmo pomposas monarquias, derrubadas pela “fúria popular” e, em seguida, esses povos acabaram decepcionados com os novos sistemas implantados.

No Brasil, parece que estamos com dificuldades para encontrar um ideal capaz de agrupar a maioria e traçar um rumo. O que temos é uma luta de ideais contrários, milhões de pessoas transformadas em espécies de marionetes contagiadas, temporariamente, por sonhos de ilustres alucinados, que ora as convence que o caminho é este, ora aquele (contrário). Enquanto isso, os problemas se agigantam na mesma proporção do nosso abismo de impotência… (se problemas são realidades, como resolvê-los com ilusões?).

Aquelas pessoas da nossa política, paradigmas ou graças eleitorais, vozes raras, que procuram ou procuraram fazer algo palpável, são pouco ou nada ouvidas. Incompreendidas ou passadas, com elas sepultamos suas obras… Somos, em verdade, pródigos de tempo e ele passa bem ou mal-aproveitado. Esquecemo-nos de que o reparável facilmente ontem, transformou-se no irreparável de hoje, e o de hoje será o do amanhã.

Vimos em outras campanhas eleitorais e veremos nas próximas, como insuperável traço cultural, um espetáculo onde se promete, com as mais falazes ilusões, resolver quinhentos e tantos anos de problemas brasileiros acumulados. Os eleitos, ungidos pelas urnas, cheios dessa equivocada ciência popular, alheios às realidades (causas e efeitos dos problemas) tencionam, apenas com papéis, canetas e discursos (até belos), edificar um “novo” sobre o “velho”, completamente descomprometidos com as estruturas fincadas nesse mais de meio milênio de nossa história, inclinando-se sobre textos e não sobre a “alma dos problemas”. Esses traficantes de ilusões não vivem delas para sempre e, felizmente, têm seus castigos. As penas dos que não se elegem, além da derrota pessoal, são as despesas eleitorais extras. Muitos, hipnotizados pelo seu grupo, gastam a beirar à ruína pessoal e familiar. A pena daquele que se elege com ilusões é a perda da credibilidade. A do povo que os elege é adiar as soluções definitivas dos problemas criando calamidades artificiais, que se unem com as já existentes, gerando terceiras, que demandarão mais tempo, mais custos e talentos (já parcos, quase inexistentes…) para a solução. Tudo precisa de um alimento, exceto a paranóia coletiva que se alimenta dela própria.

Elias Mattar Assad é advogado e presidente da Associação Paranaense e vice-presidente da Brasileira dos Advogados Criminalistas.

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