Por trás do mais recente apagão aéreo, desencadeado no início desta semana por dificuldades meteorológicas em Congonhas e por panes em seis aviões da TAM, se esconde uma queda-de-braço entre as autoridades aeronáuticas e Marco Antonio Bologna. Presidente da TAM desde 2004, há dois meses, no auge da crise nos aeroportos, ele assumiu o comando do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), transformando-se no porta-voz das críticas do setor em relação ao governo.
Foi Bologna, por exemplo, o primeiro a levantar publicamente a bandeira da desmilitarização do controle de tráfego aéreo do País. Na semana passada, em audiência na Câmara dos Deputados, Bologna fez duras críticas à Aeronáutica e à forma como o governo vinha administrado os recursos do Fundo Aeronáutico – composto por tarifas pagas pelas empresas, hoje acumulado em R$ 1,9 bilhão. Chegou a pedir a adoção de um novo modelo, o que significaria a saída da Força Aérea Brasileira (FAB) do controle da aviação comercial.
Na leitura de analistas do setor, o governo e a Aeronáutica aproveitaram o caos gerado por problemas operacionais da TAM para ?dar o troco? em Bologna. A tese é sustentada pela forma como, até então, as autoridades vinham criticando a postura das companhias aéreas durante a crise. ?Tudo era muito velado, ficando restrito às reuniões internas. Desta vez, entregaram a cabeça da TAM de bandeja?, diz um especialista em aviação comercial.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que anteontem, por meio do presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) pediu ao Snea que fosse menos enfático em suas declarações, para evitar uma troca pública de acusações entre governo e empresas.
Nas últimas semanas, diz o especialista, a Gol vinha sendo o principal alvo de críticas da Aeronáutica e dos diretores da Anac. Durante um encontro com senadores e representantes das companhias, o comandante da FAB, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, atacou a ?falta de consideração? da direção da empresa, que não teria dado nenhum telefonema para agradecer a operação montada pela FAB para resgatar as vítimas do vôo 1907. Dias antes, também em reunião fechada, diretores da Anac já haviam reclamado do tratamento que a Gol vinha dispensando os passageiros afetados pelos atrasos e cancelamentos de vôo, sem oferecer hospedagem, transporte ou alimentação.
?Tudo era resolvido internamente, para não expor as empresas. Não quero minimizar as responsabilidades da TAM no ocorrido esta semana, mas só há uma explicação da essa mudança de atitude: retaliação?, afirma um analista.
Infraero
Também desagradou ao governo a maneira como o Snea se impôs no grupo de trabalho interministerial criado há um mês pelo Ministério da Defesa para discutir propostas para a crise aérea. Partiu sobretudo de representantes da entidade a idéia de pedir a criação de um órgão civil, subordinado à pasta, para gerenciar o controle da aviação civil. Até a privatização da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) foi sugerida pelo Snea.
?O Bologna – e conseqüentemente a TAM – está pagando o preço por ter sido tão incisivo em suas colocações contra a FAB, a Anac, a Infraero e o governo?, diz um especialista.