O Palácio do Planalto vai operar para derrubar o pedido de CPI sobre as irregularidades apontadas pela Operação Sanguessuga. A interpretação é de que a oposição pretende usar as investigações para atacar o governo, uma vez que a maior parte dos envolvidos pertence a partidos da base aliada. Um grupo de parlamentares entregou hoje ao primeiro vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), requerimento para a instalação da CPI Mista que pretende investigar supostos envolvidos no esquema de fraude de licitação e compra superfaturada de ambulâncias para municípios usando recursos do orçamento da União. O requerimento obteve assinatura de 229 deputados e 31 senadores.

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O próprio Viana deu a senha de que o Planalto não tem interesse nas investigações. "A oposição vai querer usar a CPI para desgastar a relação da base com o governo", analisou Viana, integrante ele mesmo da CPI dos Bingos. "Acho que este é um ano complicado para uma CPI. Além disso, qual a condição que a Câmara tem de fazer uma investigação quando as suspeitas recaem sobre tantos nomes daquela Casa?" A quantidade de suspeitos na Câmara é o principal fator a inibir a investigação. Em tom de brincadeira, o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que o número de deputados supostamente envolvidos é suficiente até para eleger o presidente da Casa. "Assim não dá para investigar", disse.

O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) afirmou que o fato de estar em ano eleitoral não significa que o parlamentar não deva exercer plenamente o seu mandato. "Temos que exercer o mandato até o fim e isto significa investigar este escândalo", disse. Ele defendeu que a CPI trabalhe nestes cinco meses que antecedem as eleições adotando um caráter técnico e fugindo de disputas partidárias. Raul Jungmann (PPS-PE) também defendeu uma investigação. "Quero comissão interna, externa, da sociedade civil, do Ministério Publico, quero tudo que possa investigar. O que eu não suporto é abrir o jornal e ler que na Casa onde trabalho tem gente recebendo dinheiro em mala, em cuia, meia, cueca", disse Jungmann.

Só dois dos 16 deputados investigados pela comissão de sindicância da Corregedoria da Câmara – grupo considerado em situação mais delicada por terem ou recebido dinheiro em suas contas particulares ou de seus assessores – assinaram o requerimento: João Correia (PMDB-AC) e Maurício Rabelo (PL-TO). Único senador citado no relatório da PF e que teve um assessor de seu gabinete preso, o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB),não assinou o pedido. Segundo assessores palacianos, a estratégia a ser seguida pelo governo é "desidratar" a lista de parlamentares que apoiaram a criação da CPI. Para que a comissão seja instalada, são necessárias 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado. Bastaria, portanto, subtrair quatro nomes da lista do Senado.

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