O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, admitiu que a relação entre oferta e demanda de gás natural no País para 2008 está "apertada". Segundo ele, porém, "não há motivos para preocupação, porque o cenário previsto é perfeitamente gerenciável".
"Se utilizássemos 60% da energia térmica disponível – e não acreditamos que usemos nem 15%, por causa dos atuais níveis dos reservatórios das hidrelétricas – teríamos condições de cobrir de maneira apertada a demanda no caso de a economia crescer 4% ao ano", disse, durante o seminário "Os Desafios do Gás Natural" realizado ontem.
Segundo Tolmasquim, os problemas que "apertam" a relação de demanda e oferta no setor de gás natural são decorrentes de ações tomadas erroneamente no passado. "Ficamos presos a um só fornecedor e foi criado um plano prioritário de térmicas que previa a utilização de 40 milhões de metros cúbicos, mas não foi tomada nenhuma medida para trazer este gás de algum lugar ou para produzi-lo em território nacional. Em infra-estrutura é assim: o que não é feito no passado, não é resolvido com milagre.
O presidente da EPE disse também que é preciso não confundir problemas pontuais que a Petrobras teve nas últimas semanas – que prejudicaram o despacho de usinas térmicas – com a situação apertada que a demanda e a oferta de gás natural passarão no País provavelmente em 2008. "O que aconteceu nas últimas semanas foi a combinação de quatro problemas inesperados e pontuais para os quais a Petrobras não tinha lastro. Era para ter? Era, mas não tem. E é bom sabermos que se houver novamente uma conjunção de vários problemas simultâneos como aconteceu desta vez, novamente teremos problemas. Mas acredito que isso seja bastante raro e difícil de voltar a acontecer.
Os problemas foram o rompimento de um duto na Bolívia, um ajuste da plataforma P-37 que provocou parada da produção e a quebra de equipamentos na térmica de Araucária (PR) e no terminal de gás de Cabiúnas (RJ).
Apesar da situação "apertada", Tolmasquim se diz otimista com a oferta de gás no futuro. Segundo ele, em 2013 o Brasil terá o problema inverso: em vez de falta de gás, pode haver sobreoferta do combustível, que pode até tornar o País exportador. "Mantido o ritmo de crescimento de 4% ao ano, e considerando novas reservas ainda por serem descobertas ou declaradas comerciais pela Petrobras, haverá uma sobreoferta que permitirá ao Brasil entrar no grupo de exportadores de Gás Natural Liqüefeito", disse.