Recife – O governo precisa ser mais incisivo na política de regulação do mercado da mamona, sob pena de o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel beneficiar apenas os grandes empresários, sem gerar renda para os agricultores familiares, alerta Waltermilton Cartaxo, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Cartaxo é um dos participantes de encontro regional promovido hoje (24) pela Agência de Desenvolvimento do Nordeste.
Empresários, produtores e pesquisadores vindos dos nove estados do Nordeste, além do Norte de Minas Gerais e do Espírito Santo, regiões que integram o semi-árido brasileiro, estão presentes no evento em Recife, discutindo os rumos da produção de biodiesel na região.
Cartaxo, que trabalha na Embrapa Algodão, de Campina Grande (PB), explica que uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais de oleaginosas no semi-árido é a falta de organização da cadeia produtiva. Ele lembra que o Nordeste possui mais de cinco milhões de hectares disponíveis para plantação de mamona, em mais de 500 municípios, mas diz que faltam informações sobre quem vai adquirir a produção e a que preço comercializar.
"Nós temos oportunidade de garantir um milhão de empregos no setor primário do semi-árido, considerando que cinco hectares de plantio de mamona podem resultar na possibilidade de ganhos de mais de um salário mínimo por mês, mas, se não nos organizarmos nos municípios, por meio de parcerias com o poder público, estaremos deixando que a produção saia da mão do pequeno agricultor e passe a ser explorada pelos empresários.", observa.
Cartaxo cita como exemplo o caso da Bahia, maior produtor de mamona do país, que obteve uma safra de 150 mil toneladas este ano, mas não encontrou mercado suficiente para vender toda a produção. Na região, segundo ele, o preço do quilo do produto, que era de R$ 0,55, caiu para R$ 0,37, o que inviabiliza a produção. O pesquisador da Embrapa defende que o governo desempenhe um papel mais incisivo, no sentido de formar um estoque regulador da mamona, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em parceria com a Petrobrás.
Segundo os organizadores do seminário em Recife, a idéia é analisar a atual situação do programa do biodiesel e definir estratégias dos governos federal, estaduais e municipais, no sentido de garantir o desenvolvimento da cadeia produtiva do combustível não poluente, que no futuro deverá substituir o diesel de petróleo em motores de caminhões, automóveis, tratores e ônibus. Hoje, está autorizada a mistura facultativa de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo. Em 2008, essa mistura passa a ser obrigatória.