A eleição do novo papa se torna alvo de uma atenção política especial por parte do governo brasileiro. Enquanto os cardeais adotam a política de não revelarem o teor dos debates dentro do Vaticano sobre a escolha do novo papa, a Embaixada do Brasil na Santa Sé acompanha de forma minuciosa cada informação que é divulgada sobre os possíveis pretendentes ao posto máximo na Igreja. O governo, que está produzindo diariamente avaliações internas sobre as informações que consegue coletar, acredita que a escolha do novo papa está carregada de "conotações políticas" e terá implicações importantes, principalmente para o país de onde sair o novo chefe da Igreja.

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O fato de o cardeal brasileiro Cláudio Hummes ser indicado em praticamente todos os jornais da Europa como um possível candidato reforça ainda mais o interesse do governo em observar a situação. Mas os diplomatas explicam que o objetivo de Brasília vai além de tentar adivinhar quem será o novo papa. Um dos interesses do governo é o de identificar as tendências da Igreja e como os debates estão sendo realizados sobre temas espinhosos, que podem ter um impacto direto no Brasil, considerado como o maior pais católico do mundo.

As informações enviadas ao Itamaraty, em Brasília, são resultado de pesquisas com diversas fontes, inclusive diplomatas de outros países, jornais locais e especialistas.

Na semana passada, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua delegação nos funerais de João Paulo II, o chanceler Celso Amorim aproveitou para dar um tempo em sua agenda de viagens para ler as avaliações feitas pela embaixada. Segundo os funcionários do Itamaraty, o ministro se mostrou particularmente interessado na eleição para o novo chefe da Igreja em conversas privadas. Nos últimos anos, o Brasil e a Santa Sé compartilharam de alguns pontos comuns em sua avaliação sobre a política internacional. Ambos defenderam o fortalecimento das instituições internacionais como a ONU para a solução de conflitos. A Santa Sé, assim como o Brasil, foi contra a guerra no Iraque.

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O governo, porém, garante que não tem qualquer possibilidade de influenciar na escolha do novo papa. Ainda assim, o presidente Lula não escondeu que torce para que o próximo papa seja brasileiro. Em sua passagem por Roma, Lula esteve por alguns minutos com d. Cláudio Hummes, mas a questão da sucessão no Vaticano não foi tratada, segundo a embaixada do Brasil na Santa Sé.

Hoje, o Vaticano realizou uma cerimônia com todos os embaixadores estrangeiros com representações no Vaticano, entre eles o Brasil. Durante o evento, ficou claro que as viagens realizadas por João Paulo II a vários países em seus 26 anos de pontificado tiveram um impacto além das questões religiosas.

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O cardeal Joseph Ratzinger, decano do Colégio de Cardeais e um dos cotados para assumir o lugar deixado por João Paulo, destacou no encontro que nos últimos 20 anos o número de países que estabeleceram embaixadas junto ao Vaticano dobraram. Hoje, 150 países contam com relação diplomáticas com a Santa Sé.

"Quantas vezes o papa foi aos países e buscou soluções pacíficas e tentou perseguir o diálogo? Quantas vezes convidou os dirigentes das nações a dar uma maior atenção às populações mais pobres?", lembrou Ratzinger. Representando a comunidade internacional, o embaixador de San Marino, Giovanni Galassi, destacou que João Paulo II atuou contra ideologias totalitárias e de caráter ateu, mas que também pediu aos países ricos que "não escolhessem o consumismo egoísta como religião de suas vidas".

A cerimônia contou com a presença de cardeais brasileiros, entre eles d. Eugenio Salles, um dos responsáveis por receber as saudações das embaixadas de todo o mundo ao Vaticano.