Governo monta estratégia para impedir que CPIs sejam prorrogadas

Brasília (AE) – O governo começou a montar uma estratégia para impedir que as comissões parlamentares de inquérito (CPIs) dos Correios, da Compra de Votos e dos Bingos sejam prorrogadas e os trabalhos, estendidos até 2006, ano de eleições gerais. A operação para brecar a prorrogação do funcionamento das CPIs é comandada pelo presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que se reúne amanhã (04) à tarde com os presidentes e os relatores das três comissões para pedir pressa nas apurações.

"É uma reunião para saber como as coisas andam e o que é preciso fazer para queimar etapas", resumiu hoje Calheiros. Ele afirmou que a reunião servirá para tornar ágeis as atividades das comissões e dar os instrumentos necessários para a investigação, como a contratação de empresas de auditoria externa com o objetivo de checar e cruzar os dados com a quebra de sigilo bancário dos fundos de pensão e das corretoras, os contratos firmados pelos Correios com empresas de prestação de serviço, as contas no exterior detectadas pelas apurações da CPI dos Correios e a análise da movimentação das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.

Calheiros defendeu a prorrogação da CPI dos Correios só caso haja necessidade de esclarecimentos e nova investigação. "Sou contra a prorrogação da CPI se isso for para esvaziar a investigação", argumentou. Ele fez um alerta para que a comissão do Correios saia do marasmo e volte a funcionar com agilidade. "Se continuar como está por mais 30 dias, todo mundo vai pagar um preço, principalmente, o Congresso. É preciso chegar a um conclusão e amarrar as respostas que a sociedade está cobrando. A única forma de o Congresso reaver a confiança da população é investigando e punindo", afirmou.

No encontro marcado para amanhã com Calheiros, o líder do PT no Senado e presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (MS), pretende explicar as dificuldades que enfrenta para levar o trabalho da comissão adiante. Um dos empecilhos é a contratação de empresas de auditoria. Amanhã, Amaral se encontrará com representantes de três empresas para analisar as propostas e optar por uma ou duas delas com o objetivo de analisar os dados em poder da CPI. Amaral também quer que os parlamentares da base aliada parem de esvaziar as sessões da CPI dos Correios, que, há duas semanas, está quase parada, sem votar nada.

Amanhã, o presidente da Comissão fará uma sessão administrativa de emergência e espera aprovar 11 requerimentos com a quebra de sigilo bancário de corretoras acusadas de dar prejuízo aos fundos de pensão nas negociações com títulos públicos. "É uma coisa ridícula ficar procrastinando uma decisão como essa de quebra de sigilo de corretoras", afirmou Amaral. "O esvaziamento da sessão da CPI é contraproducente; é um tiro no pé", observou. Ele contou que conversou por telefone com a senadora Ideli Salvati (PT-SC), que, na semana passada, comandou a saída de parlamentares da base aliada para impedir a votação da quebra de sigilo das corretoras.

"Ela (Ideli) garantiu-me que não vai ter problema e que vai votar a favor da quebra de sigilo", disse o presidente da CPI dos Correios. "Houve um esvaziamento devido a ações de caráter regimental. Espero que isso não aconteça mais. Alguns parlamentares têm de entender que, com este comportamento, acabam prejudicando o Congresso Nacional", observou. "Não termina a CPI se tudo não tiver sido investigado. Não posso fazer o papel de abafador de CPI", completou o senador petista.

Quarta-feira (05), a CPI dos Correios pretende ouvir o depoimento de Dario Messer, que foi apontado pelo doleiro Antônio de Oliveira Claramunt, o "Toninho da Barcelona", como o doleiro que operou para o PT depois das eleições de 2002. Messer teria sido o responsável por negociar R$ 7 milhões para o partido em 2003. Segundo "Toninho da Barcelona", o dinheiro iria para a corretora Bônus-Banval, que repassava os recursos ao PT por intermédio do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Amanhã à tarde, as sub-relatorias de CPI dos Correios ouvirão os depoimentos de Glênio Guedes , ex-procurador da Fazenda Nacional que recebeu R$ 900 mil de Valério; André Marques da Silva, presidente da Interbrazil, e de três sócios de agências franqueadas dos Correios, todas elas localizadas em São Paulo.

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