São Paulo, 26 (AE) – Partiu do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República o pedido para que as polícias de todos os Estados do País vigiassem as atividades de pelos menos 10 dez movimentos e entidades sociais. Documento reservado recebido pela polícia paulista no dia 18 explica a razão da curiosidade: três eventos que iriam ocorrer em Brasília entre segunda e quinta-feira – a Conferência Nacional da Terra e da Água, a Marcha Nacional de Brasília e a Marcha Pró-Reforma Universitária.
A origem do pedido de informação às polícias estaduais foi uma reunião do gabinete de crises do GSI. Ele foi transmitido à Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), órgão do Ministério da Justiça, que o repassou através de sua rede aos Estados. No dia 24, a Divisão de Operações de Inteligência (DOI), do Departamento de Inteligência Policial (Dipol), passou para toda a rede da Polícia Civil uma mensagem cobrando o resultado do pedido de informações.
A mensagem foi parar nas mãos do deputado estadual Renato Simões (PT-SP), que denunciou a "indústria da arapongagem política" do governo estadual paulista. Ele não sabia que a polícia do Estado estava apenas cumprindo um pedido da Senasp. "Não dei um tiro no pé, pois, nesse caso, está errado quem pediu e quem executou a ordem", afirmou o deputado.
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Saulo Abreu, afirmou que quem deve explicar a curiosidade sobre as ações dos movimentos sociais é o autor do pedido. "Temos um convênio com a Senasp. Eles nos pedem informações e nós respondemos", disse. "Era um pedido de dados, não arapongagem."
A Senasp informou que a solicitação não tinha nenhuma conotação político-ideológica. Destinava-se ao planejamento do aparato logístico de segurança que acompanharia as manifestações em Brasília, a fim de garantir a tranqüilidade dos eventos e de outras atividades ordinárias na capital.
O documento da Senasp pedia às polícias que informassem sobre a partida de comboios de manifestantes para Brasília, atos concomitantes que ocorreriam nos Estados e "outras informações úteis". A Senasp confirmou ter repassado a circular aos Estados.
O presidente da comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil-Seção São Paulo (OAB-SP), Hédio Silva Junior, considerou o pedido um "abuso de poder inadmissível". A Central Única dos Trabalhadores (CUT), uma das entidades na mira das investigações divulgou uma nota acusando o governo estadual. Nela não havia nenhuma palavra sobre a atuação do GSI da Presidência da República.
Na tarde de hoje, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, negou mais uma vez, em Dourados (MS), que a ordem de monitoramento dos movimentos sociais tenha partido do Ministério da Justiça. "Não temos polícia política na Secretaria Nacional de Segurança Pública. Absolutamente não!" O Estado teve acesso ao documento. Ele tinha até o timbre do ministério.