Governo Lula ‘perdeu compostura e eficiência’, diz FHC

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que lamenta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ter sugerido um "diálogo nacional" após ter assumido a Presidência da República. Em breve entrevista distribuída pela Editora Record, que lançou nesta semana o livro "A Arte da Política – A História que Vivi", com as revelações dos bastidores dos dois mandatos dele, Fernando Henrique afirmou que ao aliar-se, "não pelos métodos mais decentes", a novos integrantes da base de apoio, o governo Lula "perdeu compostura e eficiência".

"Lamento que o presidente Lula não tenha tido a grandeza de propor um grande diálogo nacional, uma vez que não mudou os rumos fundamentais que meu governo havia estabelecido. Em vez disso, passou a queixar-se do passado, embora o continuando", disse.

"O que é pior, para se manter no governo, aliou-se, e não pelos métodos mais decentes, a quem se oferecia como aliado" acrescentou, destacando que ele poderia ter obtido a adesão do PSDB pelo mérito das propostas e não pelo "acumpliciamento" (sic) gerado por posições de poder compartilhado.

O ex-presidente citou as crises financeiras enfrentadas pelo País entre as maiores angústias enquanto esteve na administração federal. "Quando se necessita tomar decisões cujas conseqüências podem afetar, negativamente, a população, mas que são inevitáveis, a angústia é grande", afirmou.

"Pior, tendo-se consciência da necessidade de tomá-las e do que delas vai decorrer provoca o sentimento de que algumas vezes a lucidez, na política, só aumenta o sofrimento de quem toma as decisões, sem conseguir evitar as conseqüências negativas das decisões necessárias", argumentou.

Ainda em relação aos momentos de dificuldades para o Brasil em oito anos de gestão, FHC comentou a importância da diplomacia e do "bom relacionamento" que teve com chefes de Estado, como o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton.

Segundo o ex-presidente, sem a ajuda de Bill Clinton, teria sido muito mais difícil obter apoio para superar as questões econômicas internas geradas pela crise da Rússia, em 1998. "O FMI (Fundo Monetário Internacional) queria que nós desvalorizássemos a moeda como precondição para nos fazer um empréstimo. Expliquei ao presidente Clinton que eu não poderia fazer um estelionato eleitoral. Ele compreendeu e sua opinião ajudou para que o empréstimo nos fosse concedido sem aquela cláusula", disse.

"Infelizmente, no ano seguinte, por erro de operação, não conseguimos manter a política monetária e cambial sob controle e o próprio mercado forçou-nos a uma desvalorização abrupta", lamentou.

Quanto às expectativas para o Brasil, diante das eleições presidenciais deste ano, FHC defendeu "uma coalizão baseada em um programa mínimo, que inclua a criação de condições para o crescimento da economia; controle no esbanjamento dos recursos públicos; prioridade de verdade à educação (com generalização do acesso aos meios eletrônicos); fortalecimento das agências regulatórias; aumento do investimento em obras de infra-estrutura; reforma do sistema eleitoral, e muita ênfase na coordenação entre as polícias estaduais e as agências federais de combate ao crime, às drogas e à violência, para assegurar aos cidadãos o direito à vida e à livre locomoção com segurança."

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