Entende-se que durante o Carnaval o governo brasileiro esteve praticamente parado. Afinal de contas, trata-se da maior festa popular do País. Se desrespeitada pelo governo que trabalhasse como deveria em dias de semana, contrariaria a cultura do nosso povo. Alguns serviços, entretanto, precisaram continuar, como policiamento, abastecimento de água, bombeiros, etc., o que aconteceu com os pontos de ineficiência tradicionais. Espantosa e significativa foi a descoberta de que o governo federal, que busca imprimir nesta gestão a marca da aceleração do crescimento, acaba de conseguir um recorde no sentido inverso. Com mais de cinqüenta dias de novo mandato, Lula é o presidente efetivo que mais tempo demorou para definir seu ministério em toda a história do País.

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Quando alguns dos ministros que já o eram na gestão anterior começaram a acreditar que haviam usucapido seus cargos, pela decorrência do tempo, na semana passada Lula afirmou o que já antes dissera: nenhum dos atuais ocupantes de ministérios está garantido no cargo porque vai fazer uma reforma. No duro, sendo uma nova gestão, não é uma reforma, mas a nomeação de um ministério. A rigor, estamos com ministros interinos, não importa se nomes que já ocupam as pastas ou não. O segundo mandato é um novo governo, mesmo que de velhos integrantes.

A história republicana brasileira começou em 1889 e, desde então, nenhum presidente que assumiu o cargo pra valer demorou mais que cinco dias, incluindo o da posse, para nomear pelo menos o primeiro integrante do ministério. Foi o caso de Nilo Peçanha, que em 1909 sucedeu a Afonso Pena, que morreu no exercício do mandato. Pena faleceu no dia 14 de junho e já no dia 18 Peçanha tinha nomeado os ministros da Justiça e da Guerra (hoje da Defesa). O marechal Deodoro da Fonseca, que acabou com o Império e instaurou a República em 15 de novembro de 1889, já entrou com um ministro da Fazenda definido – Rui Barbosa.

Getúlio Vargas chegou ao poder através de uma revolução, a de 1930, e nomeou dois ministros já no primeiro dia de governo. Café Filho, que sucedeu a Getúlio depois de seu suicídio, em dois dias já tinha nomeado três ministros. Na renúncia de Jânio, em 25 de agosto de 1961, o vice João Goulart estava na China. Assumiu o mandato só no dia 8 de setembro, mas com a equipe ministerial pronta. Os demais presidentes tiveram a mesma presteza para montar o governo.

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Lula não justifica a demora, a não ser repetindo que não há pressa. Certamente ainda não montou o seu governo porque não consolidou o grupo que constituirá a base de sua administração, seja no âmago dos partidos que comporão o condomínio que tenta montar, seja a base parlamentar onde há ferrenha luta por cargos de ministro e mesmo outros de menor escalão. Há luta interna até mesmo no PT, que por pouco não fica do lado de fora do novo governo, engolido pelo peso do maior partido aderente, o PMDB.

O levantamento dos casos que revelam a presteza dos governos anteriores e a lentidão do atual foi feita pela Folha de S. Paulo, que também revela que o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, do PMDB, partido da base situacionista, disse que o atual governo trabalha em ?ritmo de tartaruga?. Referindo-se a ministérios e órgãos ainda ocupados interinamente por quem não sabe se vai ficar ou ser dispensado, Puccinelli disse que há morosidade no Ministério de Desenvolvimento Social e de Combate à Fome e que a Funai (Fundação Nacional do Índio) precisa levantar ?o bumbum da cadeira e trabalhar?. Nas aldeias indígenas, naquela região, há desnutrição e muitas crianças têm morrido de fome. A reação do governador foi logo depois que a Anistia Internacional denunciou o fato e criticou as autoridades de Mato Grosso do Sul e o governo federal pelo abandono dos índios.

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Mas há uma promessa e oxalá se transforme em fato: o governo diz que vai começar a trabalhar agora, pois o Rei Momo já deixou o trono…