O País tem seis bancos autorizados a estocar e captar ossos, cartilagens e tendões – chamados tecidos músculo-esqueléticos. Conta com 38 unidades capacitadas a fazer transplantes desses tecidos e cerca de 200 profissionais preparados para isso. Mesmo assim, a fila de pacientes com perda óssea – provocada por tumor acidentes ou desgaste no caso de esportistas – à espera por um transplante é enorme, 2,5 mil pessoas no total. O mesmo para o tempo na fila, dois anos em média.

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Na tentativa de mudar a situação, o Ministério da Saúde começa amanhã (14) a primeira Campanha Nacional de Doação de Ossos, com a distribuição de folhetos, cartilhas para crianças, depoimentos de artistas e peças teatrais, no Rio ( 0800-61-1997).

O problema está no número de doações. Não existe um banco de dados nacional para saber quantas doações são feitas – os números vão ser organizados pela primeira vez neste ano. Mas, tomando como referência o maior banco do País, o Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia (Into), com sede no Rio, ligado ao Ministério da Saúde, já dá para saber que é baixíssimo: "Em 2004 recebemos apenas dez doações. Em 2005, só duas", conta Sergio Cortes, diretor do Into.

O instituto tem 700 pessoas na fila de espera. Até setembro, o taxista Leandro Barreto, de 27 anos, era uma delas. Depois de oito meses de espera, foi submetido finalmente a um transplante de fêmur por causa de um tumor. "Nunca imaginei que ia aguardar tanto tempo por um osso."

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Não deveria mesmo haver tempo de espera para esse tipo de transplante, por questões práticas. Não existe incompatibilidade entre doador e receptor, por exemplo. "Podemos modelar esses tecidos como quisermos", explica Cortes. "Nada impede que um pedaço da tíbia (na perna) sirva para substituir um pedaço da bacia, por exemplo."

Outra facilidade é o tempo de conservação desses tecidos. "Os órgãos, em geral, podem se manter por horas fora do organismo. Os tecidos músculo-esqueléticos duram quatro anos." São poucos os impedimentos do doador. Ele não pode ter doenças transmitidas pelo sangue, como aids e malária, câncer e osteoporose.

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O drama enfrentado pelos médicos é o preconceito em relação à retirada desses tecidos do cadáver. Para se ter idéia, de cada dez cadáveres cuja família autorizou a doação múltipla de órgãos, só duas aceitam doar os tecidos – a equipe médica tem de ter uma autorização para cada órgão.

"A população tem mais preconceito com transplantes de ossos e cartilagens do quem em relação a qualquer outro órgão", afirma Alberto Croci, coordenador do banco de tecidos do Instituto de Ortopedia, do Hospital das Clínicas (HC). Com capacidade para fazer 40 transplantes por mês, o HC só consegue fazer 10 a cada 30 dias. São 305 pessoas na fila.

Pavor

"O maior problema é o pavor que se tem de o médico deformar o corpo do doador na retirada", conta Cortes, do Into. "É por isso que não retiramos todos os ossos do cadáver. Só extraímos ossos das partes do corpo em que a cicatriz não fique exposta".

Além disso, os tecidos – retirados com bisturi ou serra – são substituídos por moldes de plástico. "A retirada fica praticamente imperceptível e nem poderia ser diferente", diz Cortes. A legislação que regulamenta a atividade de transplantes no País determina que, feita a retirada, o cadáver deve ser recomposto e a aparência anterior recuperada, tanto quanto possível.