Governo explorador

A classe média brasileira está desaparecendo. O seu encolhimento não resulta de um movimento ascendente, com a conquista de melhores ganhos e maior segurança. Ela se aproxima ou se confunde com as classes econômicas de mais baixa renda, multiplicando o número de famílias brasileiras que vivem na pobreza, senão abaixo da linha da pobreza. Os ricos são poucos, embora muito ricos. A distância entre estes e o resto do povo é abismal.

Não fosse a exploração das massas que alguns destes exercem, sua existência não seria um mal maior e, quando empreendedores, de certa forma um bem. O achatamento da classe média, entretanto, é um mal inquestionável, pois esta é o ponto de equilíbrio e a faixa onde se forma com maiores conseqüências a opinião pública, os movimentos sociais, políticos e econômicos que dão dinamismo à sociedade como um todo.

O IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário) acaba de revelar que as famílias da classe média brasileira queimam o equivalente a 113 dias de trabalho por ano para custear despesas com saúde, educação, previdência privada, segurança e pedágio. Tais serviços deveriam ser oferecidos de forma adequada pelo governo aos contribuintes. Gilberto Luiz do Amaral, presidente do instituto e um dos autores do estudo, diz que a ?escravidão do contribuinte? resulta da ineficiência do Estado na prestação desses serviços. Trabalhamos para o governo e não para nós e nossas famílias. De 26 deste mês a 15 de setembro produzimos para substituir serviços ineficientes que o Estado nos oferece.

?O contribuinte vai começar a trabalhar para a família comer, vestir, morar, comprar bens, gozar férias e poupar apenas no dia 16 de setembro deste ano?, diz Amaral. Até o dia 25 deste mês estaremos trabalhando para pagar impostos devidos aos fiscos federal, estaduais e municipais. ?Os gastos com serviços privados vêm se acentuando ano a ano, de forma a comprometer cada vez mais o orçamento das famílias de classe média?, afirma o presidente do IBPT. Na década de 70 as famílias comprometiam 7% da renda para comprar os serviços. Neste ano comprometerão 31%.

Os gastos com segurança, prova o estudo, comprometem 10 dias de trabalho por ano, já superando os dispêndios com educação e saúde no País. Os gastos são igualmente elevados para as famílias de classe baixa e, por ganharem menos, certamente mais pesados. E pesam também, em termos percentuais, nos orçamentos das classes mais elevadas.

O que fica evidente é que estamos empobrecendo não para enriquecer os governos e fazê-los suprir nossas necessidades, mas para sustentar uma gigantesca burocracia ineficiente que produz serviços inadequados que, muito provavelmente, teríamos de melhor qualidade não fosse a presença e intromissão do poder público. Os números revelam que, muito embora não se pretenda sustentar a idéia de inutilidade dos governos, é certo que, atuando mal como atuam, eles seriam melhor substituídos por iniciativas da própria sociedade. Esta, com a imensa massa de dinheiro que o Estado lhe confisca, produziria para seu próprio consumo serviços mais adequados e de melhor qualidade.

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