Governo e produtores questionam PIB agrícola do IBGE

Governo e iniciativa privada discordaram do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que indicou crescimento de 0,8% do setor agrícola em 2005. Para o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, o resultado foi "light perto da real crise que atinge a agricultura". "A crise do setor é muito maior do que indicou o IBGE", enfatizou.

O chefe do Departamento Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Getúlio Pernambuco, concordou com o secretário e considerou o número do IBGE como "superestimado". "O número do IBGE não revela a realidade do setor rural. Os números devem ser revistos levando-se em conta também os preços, além da quantidade produzida", afirmou Pernambuco.

Para o assessor da CNA, o número do IBGE está superestimado por não levar em consideração a redução de renda dos agricultores. "Os dados do IBGE não refletem, em absoluto, o que está acontecendo com o setor. O governo não pode se guiar por esses dados, pois as informações falseiam o que está acontecendo no campo. A realidade é muito ruim", completou.

Pernambuco coloca em dúvida o próprio cálculo da variação do PIB. "O crescimento real da economia não ultrapassou 1,3%, na medida em que a agropecuária, que participa com 10% do PIB, registrou uma queda de 10% na renda, com perdas de quase R$ 17 bilhões", completou. Antes, em entrevista à rádio "CBN", ele havia afirmado que o crescimento real teria sido de 0,6%. Para ele, os números serão revistos pelo IBGE.

A CNA defende a renegociação das dívidas dos agricultores, em especial dos produtores do Nordeste, mas a divulgação de um dado indicando crescimento do setor deve municiar o governo, que descarta a prorrogação dos débitos, com mais um argumento para manter sua posição. Segundo Pernambuco, a quebra de renda de 10% no ano passado significou uma perda de aproximadamente R$ 17 bilhões.

Wedekin acrescentou que o valor da produção para os cinco principais produtos agrícolas (soja, milho, arroz, algodão e trigo) caiu para R$ 46 bilhões no ano passado, contra previsão inicial de R$ 59 bilhões. A maior parte da redução, 83%, é referente aos prejuízos ocasionados pelo recuo de preços no mercado internacional e pela valorização cambial. Os preços mundiais dos produtos agrícolas caíram porque os estoques internacionais estavam elevados. O restante, 17%, é perda por causa da quebra de safra.

A redução da colheita na safra 2004/05 é apontada por eles como um dos fatores responsáveis pela crise do ano passado. A produção poderia ter chegado a 130 milhões de toneladas, mas problemas climáticos reduziram a colheita para 113 milhões de toneladas. Wedekin explicou que os agricultores investiram para colher uma safra de 130 milhões de toneladas. "O que entrou no PIB foi o resultado de 113 milhões de toneladas, mas os produtores gastaram muito mais. O prejuízo foi muito maior", completou.

Para Getúlio Pernambuco, "as perspectivas para 2006 não são positivas". A queda de renda, observou, reduz o fluxo de caixa dos produtores e dificulta a obtenção de recursos para aquisição de insumos e pagamento de dívidas com o setor bancário "O nível de endividamento é crescente. Daí a necessidade de se buscar alternativas viáveis para equacionar os compromissos pendentes", completou.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo