O governo do presidente Evo Morales rechaçou hoje ameaças dos empresários agropecuários de organizar comitês de autodefesa para proteger suas terras de eventuais "desocupações". "O governo não pode aceitar o pronunciamento (dos fazendeiros) porque esses grupos (comitês de autodefesa) estão fora da lei e à sombra do crime", disse o vice-ministro de Coordenação com Movimentos Sociais, Alfredo Rada.
A Confederação Agropecuária Nacional (Confeagro), que reúne proprietários de fazendas, emitiu um comunicado afirmando que diante das ameaças de "avassalamento" de suas terras, criará "comitês de autodefesa". Ao mesmo tempo, a Confeagro responsabilizou o governo pelos "previsíveis conflitos entre bolivianos" que poderiam ocorrer "devido ao clima de incerteza e confrontação gerado pelas autoridades governamentais".
"O governo não está impedindo as ocupações de terras e, diante desta situação, os agropecuaristas decidimos tomar ações por nossa conta", declarou à imprensa José Céspedes, presidente da Câmara Agropecuária do Oriente (CAO), após uma reunião empresarial realizada ontem em Santa Cruz, no leste boliviano.
Mais cedo, o governo havia afirmado que seguiria adiante com sua "revolução agrária" para redistribuir entre camponeses pobres e comunidades indígenas cerca de 20 milhões de hectares de terras no decorrer dos cinco anos de mandato de Morales.
Os agropecuaristas interromperam conversações com o governo na semana passada após denunciarem a invasão de várias propriedades em Santa Cruz, a leste de La Paz.
Também hoje, o presidente Morales acusou o governo dos Estados Unidos de ter organizado grupos para matá-lo e disse que acredita na afirmação do presidente venezuelano, Hugo Chávez, segundo a qual Washington estaria preparando um golpe para tirá-lo do poder. A Embaixada dos EUA na Bolívia considerou as alegações "totalmente infundadas".