Governo Bachelet permitirá ao Chile conciliar crescimento com igualdade social

O Chile tem uma "boa oportunidade" de conciliar crescimento econômico com igualdade social no governo de Michelle Bachelet, na opinião do economista Ricardo Ffrench-Davis. Ele é um dos principais assessores da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) em Santiago, no Chile. "Creio que toda a América Latina pode fazer isso e que o Chile tem uma boa oportunidade com essa presidente", destacou.

Para o economista, a preocupação de crescimento com igualdade e soberania nacional está no "coração" da Concertación, coalizão de centro-esquerda da qual faz parte da presidente eleita Michelle Bachelet. Ele reconheceu que é "difícil" conciliar os dois fatores e destacou que "são questões estruturais que não se mudam de um dia para o outro". Mas afirmou que a Concertación está realizando mudanças "muito significativas" ao neo-liberalismo desde 1990, quando assumiu o primeiro presidente da frente, Patrício Aylwin.

"O Chile nesses anos introduziu controle de capitais especulativos, que é uma medida oposta ao neo-liberalismo. Recuperou o imposto que Augusto Pinochet havia eliminado para financiar os gastos sociais. Restabeleceu os direitos dos trabalhadores, sentou à mesa de negociação com os sindicatos dos trabalhadores", disse o economista.

Segundo ele, de fato, "há muitos ingredientes do neo-liberalismo vigentes". No entanto, ressaltou que a Concertación tem feito "correções importantes para se ter crescimento com igualdade". "É um erro dizer que, no conjunto, as políticas econômicas chilenas são neo-liberais", afirmou o assessor da Cepal.

Ffrench-Davis destacou que, durante a ditadura de Augusto Pinochet, o salário mínimo no Chile teve o valor reduzido em 7% e, nos 16 anos de Concertación, houve um aumento de 107%. "Isso não significa que os problemas foram resolvidos. As ações avançaram na direção correta, mas é preciso intensificá-las", disse.

Antes da ditadura, a diferença entre a renda dos 20% mais ricos e os 20% mais pobres da população chilena era de 12 vezes, segundo dados da Cepal. Nos anos 90, a diferença era de 20 vezes. "Hoje em dia é de 15 vezes. É pior do que tínhamos nos anos 60 e início dos 70, mas é notavelmente melhor do que no final da ditadura de Pinochet", avaliou o economista. O coeficiente nos Estados Unidos, segundo ele, é de nove vezes.

Ele destacou os dados referentes à pobreza, que mostram uma queda do índice no Chile desde 1990. "No início dos anos 70, 20% dos chilenos eram pobres. A democracia herdou um índice de 45% de pobres. A pobreza havia acentuado enormemente", disse. O economista ressaltou que atualmente 19% dos chilenos estão abaixo da linha da pobreza. A diminuição no índice, segundo o assessor, deve-se, entre outros fatores, ao rápido crescimento da economia chilena. De acordo com dados da Cepal, o Produto Interno Bruto (PIB) chileno cresceu 6% em 2005. No Brasil, o índice brasileiro foi de 2,5%.

Ffrench-Davis lembrou que Bachelet defendeu, durante a campanha, apoiar as pequenas e médias empresas em questões tecnológicas, de inovação e acesso a mercados. "Temos que fazer uma economia que seja amigável com os trabalhadores e empresários, que os permitam trabalhar e produzir tranqüilos", afirmou. O economista ressaltou que essas medidas são essenciais para promover a igualdade no sistema econômico.

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