Brasília (AE) – O governo pôs em prática uma estratégia para tentar esfriar a crise, adiando para depois do recesso parlamentar de julho o depoimento do deputado José Dirceu (PT-SP) no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara.
Convidado para depor nesta semana, Dirceu contrariou as expectativas e disse hoje que não deporá em nenhum dos três dias sugeridos no convite encaminhado a ele na semana passada.
Dirceu poderia comparecer amanhã (28), quarta (29) ou na quinta-feira (30). A mesma tática de adiar o depoimento no conselho, cujas sessões são abertas, deverá ser seguida caso outros integrantes da cúpula do PT e do governo sejam chamados.
"Esta é uma semana de transição. Estou mudando de gabinete e de casa. Não vou nesta semana", disse Dirceu, que não quis prever quando dará o depoimento. Na quinta-feira, o Congresso deverá entrar em recesso por um mês, caso seja votada a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Na semana passada, Dirceu depôs a portas fechadas, por 40 minutos, na Comissão de Sindicância da Câmara, outra frente de investigação criada no âmbito da Corregedoria da Casa. Os trabalhos do conselho e da Comissão de Sindicância serão suspensos durante o recesso.
O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP) esperou durante todo o dia de hoje a confirmação do depoimento de Dirceu. Mas, à noite, admitiu que o ex-ministro não compareceria nesta semana. O conselho não tem poder de convocar depoimentos, mas apenas de convidar pessoas a prestar esclarecimentos. "Se a gente não votar a LDO, tentaremos que ele venha na semana que vem. Caso contrário, ficará para a primeira semana de agosto", disse Izar.
Em outra frente para limitar as apurações do Conselho de Ética, o governo questiona a abrangência das atribuições dessa instância. Hoje, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), criticou a postura do conselho de tentar buscar provas que deveriam ser apresentadas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que é alvo do pedido de cassação por quebra de decoro parlamentar apresentado pelo PL. "Fui alertado por líderes e por deputados da base que (o conselho) está ficando um processo continuado", reclamou.
Chinaglia falou ainda em sobreposição dos trabalhos do conselho e da Corregedoria, com a comissão de sindicância. Uma questão de ordem encaminhada ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), pelo deputado Edmar Moreira (PP-MG), pretende formalizar a limitação dos trabalhos do conselho. O deputado argumenta que o conselho está "exorbitando seus poderes". O conselho deverá ouvir amanhã (28) o depoimento de Fernanda Karina Somaggio, a ex-secretária do empresário Marcos Valério de Souza, sócio da SMPB e DNA, de Minas Gerais.