Com a experiência de quem nos últimos dois anos recorreu por duas vezes à Força Nacional de Segurança (FNS), o governador reeleito do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), lembra que a tropa é formada por representantes das polícias de todos os 27 estados da federação e critica os opositores à participação do grupo de elite no combate à criminalidade. "É um preconceito achar que é demérito lançar mão de uma instituição da qual você faz parte. É como a velha discussão se o país poderia ou não recorrer ao Fundo Monetário Internacional, sendo sócio dele"
O governador alerta para um debate que certamente surgirá no Rio com o pedido de ajuda que o governador Sérgio Cabral fez ao presidente Lula. "Na primeira vez tivemos alguma reação das polícias locais que, através do diálogo e do debate, compreenderam o papel da Força Nacional de Segurança. Na segunda vinda não tivemos uma rusga sequer", lembra Hartung, admitindo que isso poderá acontecer no Rio. Hartung, cujo Estado teve um ex-chefe do Poder Legislativo (José Carlos Gratz) acusado de comandar o crime organizado, alerta: "O importante é não subestimar a força do crime organizado, articulado em torno do comércio ilegal de drogas e armas. Quem subestimar esta força terá dificuldade maior"
Sem citar nomes, ele critica aqueles que tentam isoladamente combater a criminalidade. "Não subestimar a força do crime organizado é saber que o seu enfrentamento primeiro passa pela união de todos. Essa não é uma disputa que se ganha no voluntarismo e muito menos na arrogância. Não vou citar Estados federados, evidentemente, embora esteja implícito nas minhas palavras. Todos que foram na posição de voluntarismo e de arrogância, deram com os burros n’água".
O Espírito Santo recorreu pela primeira vez à Força Nacional em novembro de 2004 quando, de dentro dos presídios locais, saíram ordens para atentados a ônibus, tal como se suspeita que tenha ocorrido no Rio neste fim de ano. Os policiais da FNS substituíram soldados do Exército no policiamento a terminais de ônibus, liberando as polícias Militar e Civil para proteger a população em outras áreas. Em julho do ano passado houve nova ajuda, depois que uma rebelião destruiu o presídio de segurança máxima do estado, no município de Viana (Grande Vitória). A Força de Segurança ajudou no controle da Casa de Detenção que recebeu os presos da cadeia destruída.
Hartung lembra que não há divisão nem disputa de poder com a chegada da Força Nacional. "Eles são chefiados pelo comando da unidade local. Não tem conflito de comando. Eles entram numa estratégia local e acabam fortalecendo essa estratégia", diz. Segundo Hartung, o trabalho da Força Nacional na Casa de Detenção, treinando policiais locais, permitiu que a tropa deixasse o Espírito Santo antes mesmo de a reforma da penitenciária ser concluída
Segundo o secretário de Justiça do Estado, Ângelo Roncalli, o sucesso do trabalho da Força Nacional no Espírito Santo foi a integração promovida pelas próprias autoridades locais. "Fizemos todo um trabalho de integração. Mantínhamos reuniões com os comandos da Força Nacional e da Polícia Militar Todas as decisões eram compartilhadas. Promovemos até momentos de lazer em conjunto, com jantares e churrasco entre os componentes das duas corporações", explicou Roncalli