Golpe bem encaixado

Um bom passatempo para o observador das lides parlamentares é a porfia travada entre a coalizão governista e a oposição, cuja vanguarda é comandada hoje pelos deputados Ônix Lorenzoni, Júlio Redecker e ACM Neto, respectivamente, Democratas (DEM) do Rio Grande do Sul e Bahia.

O enfrentamento recrudesceu a partir do momento em que o presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), mandou arquivar o requerimento solicitando a abertura da CPI do Apagão Aéreo, fazendo vista grossa a uma tradição consagrada na prática congressual, qual seja a de tratar o recurso como um direito das minorias.

A oposição foi bater às portas do Supremo Tribunal Federal (STF), que através de medida liminar assinada pelo ministro Celso de Mello não apenas retirou a solicitação do arquivo, mas assegurou para o final do mês a posição definitiva dos ministros da corte sobre o assunto.

Com o precedente da ordem expedida na legislatura anterior quanto à implantação da CPI dos Bingos, que fora rejeitada em plenário e acabou dando em nada, os deputados da oposição confiam no pronunciamento favorável da maioria do Supremo, mesmo porque a experiência diz que a Casa não costuma contrariar posição previamente assumida por um de seus titulares.

Por outro lado, a bancada de oposição no Senado tem as assinaturas necessárias para entregar ao presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PSDB-AL), o pedido de instalação da CPI do Apagão Aéreo, cujo fato determinante é o caos dos aeroportos causado pela rebeldia dos controladores de vôo.

O golpe foi bem encaixado e seus reflexos imediatos foram sentidos pelos governistas, leia-se Palácio do Planalto, que passaram a interpretar como menos traumático para o governo o funcionamento da CPI na Câmara, onde a base aliada constitui maioria absoluta.

Na tentativa de esvaziar a CPI tanto na Câmara quanto no Senado, o governo saiu na frente, determinando à Polícia Federal rigorosa investigação das licitações duvidosas da Infraero, caixa-preta de difícil abertura, tencionando mostrar um serviço sempre sustado pela espessa venda que nada deixa ver ou, pior, pelo protecionismo aos agregados do poder.

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