O presidente da GM do Brasil, Ray Young, já analisa a possibilidade de importar modelos da marca produzidos na China. Ele também estuda a importação de componentes para montar no País alguns veículos que teriam parte das peças nacionalizadas. A empresa produz carros pequenos e de luxo em parceria com a Wuling e vendeu no ano passado 870 mil veículos no mercado chinês.
"O jogo mudou", disse Young, que participa do Salão do Automóvel de Detroit, nos EUA. Ele lembrou que os modelos chineses produzidos no Uruguai pela Chery, em conjunto com o grupo argentino Macri, começarão a chegar ao Brasil em breve. Um dos modelos que deverá ser montado no Uruguai é o QQ, compacto cujo projeto inicial seria uma cópia do Chevrolet Spark, feito pela GM na China. "Podemos importar e nacionalizar o produto para defender esse segmento", disse o executivo, para quem a estratégia não atrapalha investimentos anunciados para o Brasil.
A GM também produz na China uma minivan similar às versões que a chinesa Chana vai vender no Brasil. Young informou que a companhia deve utilizar mais as parcerias que mantém tanto na China como na Coréia para dispor principalmente de produtos de nicho, cujo volume de vendas não compense uma linha de montagem.
No ano passado, a Fiat chegou a testar o modelo Palio produzido na China para analisar a possibilidade de importá-lo para países da America Latina, mas conclui que, por enquanto, a operação não é viável.
A GM também estuda importar modelos de luxo como o Cadillac, produzido nos EUA, e o jipão Hummer H3, feito na África do Sul. "Com um mercado de 2 milhões de veículos ao ano podemos pensar nessa possibilidade para completar a linha.
Ágio
Young disse que vão faltar carros no mercado brasileiro nesses primeiros dois meses do ano e que já há cobrança de ágio em alguns modelos da marca. "Iniciamos 2007 com apenas 17 mil veículos em estoque, quando o normal são pelo menos 25 mil." Segundo ele, a GM concedeu prazo maior de férias coletivas em relação às concorrentes porque precisava promover adaptações para ampliar a capacidade de algumas linhas.
A fila de espera para o Prisma chega a 30 ou 40 dias, e o ágio já chega a 2%. Para o jipe Tracker, importado da Argentina, o sobrepreço em relação à tabela sugerida pela fábrica chega a 10%. O executivo acredita que a produção somente vai ser normalizada a partir de março.
Quase três anos após assumir o comando da GM do Brasil, Young conseguiu levar a companhia à rentabilidade em 2006, após oito anos de prejuízos. No ano passado, a marca também obteve recorde de vendas no mercado interno, com 409.932 unidades, 12% mais que em 2005. No domingo, durante jantar de executivos da GM da região da América Latina, África e Oriente Médio, realizado em Detroit, Young recebeu um troféu pelo desempenho.
Embora tenha afirmado várias vezes a intenção de permanecer à frente da filial brasileira por mais algum tempo, Young pode ser convocado pela matriz para assumir outro cargo. Três dos quatro executivos que o antecederam no País foram alçados a postos mais importantes na companhia. Um deles é Rick Wagoner, o presidente mundial da GM, e outro é o número dois do grupo, Fritz Henderson responsável pela área de finanças. O terceiro, Mark Hogan, chefiou a área de desenvolvimento e depois deixou a empresa para comandar a fabricante de autopeças Magna.
Embora com vendas recordes, a GM ficou em terceiro lugar no mercado brasileiro, atrás da Fiat e da Volks, embora os números da montadora alemã incluam também caminhões e ônibus. A produção da GM em 2008 foi 1,5% abaixo da registrada em 2005, com 551 mil veículos, por conta da queda das exportações, reduzidas de 209 mil para 165 mil unidades no ano passado. Para 2007, Young prevê nova queda de 10% nos volumes para exportação. Já o mercado interno deve absorver 5% a mais. A repórter Cleide Silva viajou a Detroit a convite da Anfavea.