A globalização teve sua gênese no curso de Administração de Empresas nos EUA, nos idos da década de 80. A emérita professora Odete Maria de Oliveira (Rev. Fac. Direito da UFSC, p. 131), citando o especialista Carlos Juan Moneta, afirma que “o conceito de globalização refere-se aos processos considerados como um conjunto inter-relacionado de crescente interação e interdependência, originados entre as distintas unidades constitutivas do novo sistema mundial em formação”. Salienta ainda que este processos ampliam o espaço geográfico e campos de atuação, atingindo atividades e resultados de empresas, organismos, organizações públicas e privadas, grupos e movimentos internacionais.
Enquanto a globalização delicia-se nas disputas de mercados consumidores, constituindo uma verdadeira “guerra mundial das corporações internacionais”, num individualismo atroz, a integração busca o apaziguamento e junção das desigualdades. A professora Odete Maria de Oliveira (ibid, p. 136) afirma que “a integração pode ser apontada como um processo de formação de blocos econômicos regionais, comandados pelo objetivo político comum de criar e manter seus próprios mercados, através de um espaço protegido”. Assim, poderíamos sintetizar que uma é a antítese de outra, uma vez que a globalização busca o crescimento através de competições individualistas, ao passo que a integração busca a união para a solidificação de um próspero crescimento, dentro de certa harmonia. A cópia de valores empregados pelos EUA, Japão e UE que ditam o mercado econômico e, infelizmente, cultural desta aldeia global, acaba gerando distorções gritantes. O choque entre globalização e integração não pode ser considerado como algo inexistente ou mesmo moderado. Países latino-americanos padecem com o suor e sofrimento de seus povos para tentar entrar nesta sociedade globalizada, que exclui radicalmente aqueles que a ela não se engajam.
A integração, anterior ao ideal global, acabou se tornando paciente da globalização. Integra-se por temer a exclusão que as relações internacionais globalizadas importam à maioria solitária, que agem individualmente, não competindo, mas resistindo a forças externas tais como a especulação virtual, que vulnera a economia interna, provocando noutro pólo a queda de produtividade, seguindo a elevação do desemprego e o caos socioeconômico interno.
A comunicação on-line, o alto desenvolvimento de poucos países em áreas como microeletrônica, biotecnologia e materiais não oriundos de matéria-prima natural, mas sim de laboratórios de última geração, e o poderio econômico, comparado aos países que a cada dia ficam mais obsoletos na seara da ciência e tecnologia, acabam por forçar a subjugação dos países pouco desenvolvidos, que não entenderam que o investimento em educação, sem a qual não há ciência e tecnologia, gera uma aceitação quase inconteste dos ditames dos países e das transnacionais que conduzem os limites da globalização. Dentre os mais de 180 países do globo, não chega a duas dezenas aqueles que possuem posição de relativa confortabilidade nesta sociedade internacional global e voraz. Aos demais, resta a integração como única alternativa, não para deter a globalização ou galgar posição em pé de igualdade com esta minoria desenvolvida, mas para tão-somente não ser incluindo como uma oculta, quase virtual colônia dessas metrópoles. Assim, torna-se imperativo a existência de uma integração em blocos, para que juntos possam formar uma estrutura onde consigam ao menos sobreviver, e daí em diante objetivar o seu crescimento, através de suas limitadas estruturas.
Ao olharmos para as crises latino-americanas, tais como o recente incidente venezuelano, a queda das estruturas da Argentina, o Estado de Sítio do Paraguai, a vulnerabilidade do ‘Real’… começamos a perceber que todos os países do Cone Sul, e com muito dor assim dizemos, merecem a situação em que estão, pois a integração de blocos econômicos regionais tornaram-se o destaque do cenário internacional, e ainda assim os parlamentares, governos, a sociedade e a política em si de todos os países, com grande culpa do Brasil, ainda não se decidiram definitiva e radicalmente em adotar o Mercosul como a solução para a comunidade regional. O resultado é que estamos todos pagando por isso. Saliente-se que todas as crises internas das nações sulistas são claro e evidente reflexo do processo de globalização econômica.
Os EUA querem nos fazer engolir a Alca nos seus termos, e diante da miséria em que a América Latina se encontra, é de se temer que a fraqueza dos países se dobrem ao julgo ianque, que se apresenta com promessas falsas e/ou ilusórias, como muito bem já se comprovou nas ‘maravilhosas’ soluções ofertadas pelo FMI à Argentina e ao Brasil, onde essa quebrou e este está afundando numa areia movediça sem encontrar soluções transparentes, sólidas e viáveis dentre os candidatos à presidência.
É necessário que todos nós nos preocupemos com as discussões acerca do Mercosul, que motivemos e cobremos nossos parlamentares a dar maior atenção à integração deste bloco, assim como colaborarmos, enquanto sociedade interessada, com nossos conhecimentos (econômico, jurídico, sociológico, científico, etc). Mais uma vez está em risco a sobrevivência da atual e das futuras gerações. A globalização é um óbice à integração, porém não deve ser combatida de frente, mas sim em sua raiz, o individualismo econômico.
Alexandre Sturion de Paula
é acadêmico da Unopar, membro de grupos de iniciação científica e do Nedic (Núcleo de Estudos de Direito Constitucional). Conciliador no JEF/Londrina.E-mail: sturion.jus@bol.com.br