Gilberto Gil tenta, mas crise no ministério persiste

No rastro da crise política que abateu o governo, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, tem vivido os dias mais difíceis no cargo. Após atritos com amigos, artistas e intelectuais, Gil veio a público nesta semana cobrar mais trabalho na convocação extraordinária.

Soou como um desabafo, após a sucessão de atropelos, bate-bocas e farpas detonada no fim de 2005 pelo poeta Ferreira Gullar. Pelo tom das declarações de hoje do cantor e compositor Caetano Veloso, o nó não será desatado tão cedo.

No dia 21, em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", Gullar atacou a "centralização" da política do ministro da Cultura. Dias depois, veio a reação do secretário de Políticas Culturais do ministério, Sérgio Sá Leitão, acusando o poeta de defender "finados regimes stalinistas". Gullar revidou, comentando que a declaração soava como um comunicado do extinto Serviço Nacional de Informação (SNI).

Gullar deu por encerrada a polêmica. Mas ela só começava. Em apoio ao poeta, foi enviado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Gil um manifesto endossado por nomes de peso, como a atriz Fernanda Montenegro, o arquiteto Oscar Niemeyer, o escritor João Ubaldo Ribeiro e Caetano.

Caetano jogou mais gasolina na fogueira na semana passada, quando, em carta aberta, alertou que o ministério do ex-parceiro Gil estaria a "um passo do totalitarismo".

Cabeça

O ministro não deixou por menos: "Peçam minha cabeça ao presidente", reagiu. Disse que Leitão não fez nada em desacordo com as orientações: "O que ele fez de errado? Por que não pedem a minha cabeça, em vez de pedir a dele?" "Digam, apontem, o que é totalitarismo no ministério? Totalitarismo? É vago, eu não sei o que é, me digam, eu também preciso saber", afirmou o ministro.

Apesar do tom firme, Gil defendeu o direito da sociedade de criticar o ministério. Ele acrescentou que levar o caso adiante seria "acirrar confronto artificial". Ponderou que Caetano estava "exercendo papel de cidadão". "Vejo com bons olhos, (Caetano) não é como outros, que fazem críticas e ao mesmo tempo dizem que não acompanham o trabalho", disse, numa referência indireta a Gullar.

Na sexta-feira (06), Gullar também quis pôr panos quentes no episódio, dizendo-se surpreso com a permanência da polêmica no noticiário. Voltou a criticar Leitão, mas afagou Gil: "Não me passou pela cabeça brigar pessoalmente com Gil, que conheço desde a sua chegada ao Rio, nos anos 60."

Ancinav

Por trás da alta temperatura no meio artístico pode estar o acalorado debate travado nos bastidores em torno da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav), que expira neste ano. O governo precisa mandar novo projeto para o Congresso e o molde não está definido.

O tema é altamente inflamável. Já em agosto de 2004, os termos de criação da agência desagradaram ao setor do audiovisual. O cineasta e crítico Arnaldo Jabor chegou a dizer que o governo Lula era "liberal de dia e stalinista à noite"

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