Gil diz que efervescência cultural marcou período da ditadura

Recife – O ministro da Cultura, Gilberto Gil, afirmou hoje, durante palestra no seminário “O golpe militar de 1964 – 40 anos depois, promovido pela Fundação Joaquim Nabuco, no Museu do Homem do Nordeste, que a ditadura aconteceu em momento de efervescência cultural e dinamizou as relações entre música, teatro, cinema e literatura no país.
De acordo com Gil, com a implantação do regime militar, os setores incumbidos da produção cultural, que sofreram a “lei da mordaça”, tiveram que se expressar mais fortemente para demonstrar o repúdio da nação à ditadura.

Ele disse que com o golpe, houve um amadurecimento antecipado da criatividade, já que os jovens, intelectuais e artistas tiveram que produzir o discurso da reflexão sobre a injustiça social, o problema econômico, a violência e a fragilidade institucional do estado brasileiro. “O regime militar fez com que aflorassem produções literárias, peças de teatro, repertório musical com um estudo sobre o Brasil, que não iria ocorrer se a oportunidade não tivesse sido oferecida. A nossa geração deixou um legado importante para o Brasil, a partir do estímulo que teve de responder ao golpe”, afirmou.

O ministro lembrou que alguns problemas brasileiros da época do golpe pareceriam patéticos se muitos deles não permanecessem até hoje. Citou, como exemplo, a migração de milhares de nordestinos para o centro-sul do país em busca de sobrevivência, o analfabetismo, a falta de energia elétrica e a mortalidade infantil.

Disse ainda que o sonho dos abolicionistas como Joaquim Nabuco, da incorporação dos ex-escravos em um projeto democrático de desenvolvimento econômico e político, continuava enterrado e, além disso, reinava a proibição do voto do analfabeto, bem como a submissão dos trabalhadores rurais a processos bárbaros de exploração.

Gilberto Gil contou que a segunda maior característica do período foi o envolvimento da militância estudantil com as experiências populares, como os movimentos de educação de base e de cultura, que ampliaram as temáticas da criação intelectual e artística.

“Não fomos inteiramente derrotados em 64”, disse o ministro, acrescentando que a sociedade, nas suas representações múltiplas, desenvolveu-se, enriqueceu-se, apesar das misérias que lhe foram impostas.

Gil elogiou as iniciativas que vêm sendo implementadas no país para lembrar o aniversário do golpe. Afirmou que a ocasião é oportuna não só para recordar o passado, mas para pensar no que vivemos e no que faremos.

O ministro disse que o projeto de construção de uma nação democrática nunca se fez tão urgente como agora.

Gilberto Gil, que foi preso e exilado em Londres em 1969, juntamente com o cantor Caetano Veloso, afirmou que aprendeu com a experiência a viver longe da terra natal, controlar a saudade, falar outro idioma e a tocar guitarra elétrica. “Me tornei um músico mais preparado, com uma visão cosmopolita da vida e do mundo”, concluiu.

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