Embora o governo ainda discuta como implantar uma política integrada em todo o país, diversas experiências já mostram um planejamento conjunto das áreas diretamente envolvidas com a saúde do trabalhador. É o caso do município de Jundiaí (SP). O gerente executivo do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no município, Eudes Urbano dos Santos, diz que até a realização da Conferência Municipal de Saúde do Trabalhador, o contato com o Centro de Referência e Saúde do Trabalhador (Crest) e com a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) de Jundiaí eram desarticulados. Segundo ele, não havia confiança entre os técnicos do INSS e do CREST para a efetiva realização de ações.
"Percebemos que os objetivos eram os mesmos, que era a vontade de se fazer um trabalho bem feito, economizando custos e fundamentalmente com o foco no cidadão, protegendo o trabalhador, que é o elo mais frágil nessa cadeia", afirmou. A partir de então, foi feita uma interação, para que quando as agências do INSS tiverem dificuldades em enquadrar um caso como acidente de trabalho, possam procurar o Crest e ter acesso aos dados do trabalhador.
Eudes explicou que o próximo passo da integração é proteger o trabalhador, de forma que a avaliação no cidadão deixe de ser individual e passe para a responsabilidade da empresa, que irá provar se houve ou não acidente de trabalho. A enfermeira do Crest de Jundiaí, Márcia Rosa, diz que as ações de fiscalização e vistoria nos ambientes de trabalho já estão sendo feitas em conjunto com a previdência e com as DRTs.
Projetos como o Sistema de Notificação de Acidentes de Trabalho (Siat) também fazem parte do que ela chama de rede de integração. "Elaboramos uma ficha de notificação em conjunto com o hospital municipal, em que os casos de acidentes de trabalho que chegam a eles são imediatamente passados para nós. Em casos mais graves, fatais ou com menores de idade, as ações de vigilância e de dados epidemiológicos do trabalhador que se acidenta são automaticamente disparadas", afirma.
De acordo com ela, a rede observa ainda a questão da informalidade e dos acidentes de trabalho na construção civil com projetos que procuram ensinar para os trabalhadores o uso adequado de equipamentos e de proteção individual e a importância de se saber detectar quais as atividades de risco.
No município paulista de Indaiatuba, onde o Crest funciona há um ano, o trabalho conjunto entre o centro e o INSS tem conseguido levantar as causas das doenças do trabalho. O coordenador do Crest, Sandor Acras, diz que atendimento, orientação e programas educativos são feitos em associação com a Previdência Social e a DRT da região. Segundo ele, uma ação conjunta, principalmente com a prefeitura dos municípios próximos, tem dado bons resultados. "Fazemos uma vigilância junto às empresas, passamos orientações para os empregados e empregadores, os direitos que eles têm em relação ao INSS. Nessa caminhada, a intenção é promover a saúde do trabalhador com a visão das doenças ocupacionais", disse.
Já a assistente social do INSS de Indaiatuba, Lúcia Helena, afirma que a maior vantagem da interação entre os ministérios e o Crest é a troca de dados e informações que sirvam de base para os dois lados. "O Crest e os médicos peritos podem resolver algumas situações conflituosas de pareceres e nexos, onde nada impede que a fiscalização possa ser feita em conjunto entre o médico do Sistema Único de Saúde e o médico da previdência". Segundo ela, a questão da intersetorialidade chegar à ponta é um esforço de todos na região.