Se depender dos representantes da Fiep, Faep, Crea-Pr, Instituto de Engenharia do Paraná, Sindimafer, Centro dos Ferroviários, Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, presentes a reunião realizada, nesta terça-feira, na Secretaria dos Transportes, em Curitiba, a Ferroeste deixa de ser administrada pela a Ferropar e passa a ser controlada por uma gestão mista.
A ferrovia, que liga o Oeste do Paraná ao Porto de Paranaguá, encontra-se sob intervenção desde o último dia 19, depois que a própria ANTT ? Agência Nacional de Transportes Terrestres, constatou que a Ferropar estava incapacitada para operar a ferrovia, por não dispor de recursos para a compra de novos equipamentos e nem mesmo para fazer a manutenção de sua pequena e insuficiente frota.
?O impasse gerado em torno da Ferropar, que resultou na sua intervenção, deve-se a sua incapacidade financeira, para poder supri-la de equipamentos suficientes para o transporte de cargas, além da necessidade de se fazer uma conservação e melhoramentos em alguns trechos considerados deficientes, onde a máquina precisa de muita tração e perde-se muito tempo com o transporte, encarecendo o frete, evidentemente?, disse o ex-governador Emilio Gomes, que lidera um grupo de engenheiros e técnicos dispostos a lutar para que o Governo do Estado, com o apoio da sociedade civil, retome o controle da ferrovia, um dos mais importantes meios para o escoamento agrícola do Estado.
O ex-governador acha que, na atual circunstância, enquanto perdurar o impasse jurídico envolvendo o Governo do Estado e a Ferropar, empresa que adquiriu direito de explorar a ferrovia através de um ?questionado? processo de privatização, nenhuma outra empresa se arriscaria a investir na ferrovia.
?Assim, temos que procurar através da nossa economia interna buscar os recursos necessários, quem sabe oriundos dos próprios usuários, as cooperativas, os exportadores, para através de um sistema de garantia futura de frete reequipar a ferrovia e melhorar e ampliar o seu traçado?, afirmou Emilio Gomes, para quem a Ferropar encontra-se totalmente alijada desse processo. ?Já perdemos muitos anos com a expectativa de que essa empresa viria a investir na ferrovia. Agora, é preciso recuperar o tempo perdido?, acrescentou.
Para o representante da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Nilson Hanke Camargo, assessor técnico e econômico, os maiores prejudicados com a paralisia da Ferroeste são os produtores agrícolas, ?uma vez que esse trecho ferroviário, de Cascavel a Guarapuava, concentra toda a produção agrícola do Oeste do Estado.
Os produtores estão sendo tremendamente prejudicados com a falta ou diminuição do transporte ferroviário, porque são obrigados a recorrer ao frete rodoviário muito mais caro. Portanto, estamos tendo um custo de produção maior, que torna nossa produção menos competitiva lá fora?.
Ele deixou claro que a Faep pretende seguramente apoiar todas as ações que venham a concretizar os investimentos para o reequipamento da Ferroeste, para que a ferrovia venha a cumprir os propósitos para os quais foi construída. ?Temos algumas alternativas factíveis e bem possíveis de serem realizadas, que seria a CIDE ? Contribuição sobre Intervenção do Domínio Econômico (Imposto sobre combustíveis).
A Faep tem insistentemente reivindicado que os recursos oriundos deste imposto sejam efetivamente aplicados em infraestrutura de transportes. Aliás, é para isso que esse tributo foi criado. Outra alternativa seriam as PPPs, através das quais o Governo junto com a iniciativa privada fariam os investimentos necessários. Acho que esse seria o modelo ideal?, destacou.
Seja qual for o modelo de gestão, as medidas devem ser tomadas com urgência, pois segundo o ex-governador Emilio Gomes, o setor agrícola não pode continuar sendo castigado. Ele lembra que, no Brasil, o custo do transporte de produtos agrícolas, desde a sua fonte de produção até o porto, encarece 35% o valor final do produto.
?Enquanto que em países mais desenvolvidos, como Estados Unidos, por exemplo, esse índice não chega a 10%. Isso por conta da qualidade dos modais de transportes. Nós temos condições de chegar a esse ponto com o tempo, mas é preciso evitar problemas como este da Ferroeste?.
Para o diretor jurídico, administrativo e financeiro da Ferroeste, Samuel Gomes, a primeira reunião do grupo que estuda uma solução para a Ferroeste foi um sucesso.
?Mais uma vez, a sociedade responde positivamente à convocação do governo para que o Paraná retome o projeto da Ferroeste, que é estratégico para o nosso desenvolvimento. Está instalado, e com ampla representatividade, o fórum permanente em defesa da Ferroeste. É dele que sairão idéias que colocarão a ferrovia no panorama econômico do Estado?.
O grupo que estuda a adoção de um plano de emergência para a Ferroeste e que se reuniu, nesta terça-feira, pela primeira vez, volta a se reunir em trinta dias, para a realização de um seminário, na cidade de Cascavel, com a presença de produtores, prefeitos e usuários da Ferroeste. A Ferropar conta atualmente com 55 vagões e 4 locomotivas, quando seriam necessários 732 vagões e 60 locomotivas. Apenas uma locomotiva está operando.