Gerdau é a brasileira mais internacionalizada, diz estudo

Enquanto a Vale do Rio Doce anunciava a compra da Inco no Canadá a Gerdau estudava oportunidades na China e no Leste Europeu. Pouco tempo antes, a Natura inaugurava um laboratório na França e a Sadia iniciava a construção de uma fábrica na Rússia. As empresas brasileiras mudaram, definitivamente, de patamar no tabuleiro global. Elas deixaram de ser apenas exportadoras para fincar raízes no exterior

O nível de internacionalização das empresas levou a Fundação Dom Cabral a elaborar o primeiro ranking sobre o assunto. Entre as 24 companhias que participaram do levantamento, a Gerdau aparece em primeiro lugar, seguida pela Construtora Odebrecht, Vale, Petrobras e Marcopolo, nessa ordem

"O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer, mas fez um enorme progresso a partir dos anos 90", diz o coordenador do ranking da Dom Cabral, Álvaro Cyrino. "Algumas empresas estão encarando a internacionalização como estratégia principal de crescimento.

A Gerdau foi uma das primeiras empresas a se aventurar no exterior, ainda nos anos 80. Listada na Bolsa de Valores de Nova York desde 1999, já investiu mais de US$ 1,7 bilhão em aquisições no exterior. A maior parte das suas usinas hoje está fora do País. No primeiro semestre, 60% do faturamento veio da atuação internacional

O avanço da Vale certamente vai alterar a pontuação da companhia no ranking, mas provavelmente não deve tirar o posto da Gerdau. Apesar de ter uma operação maior que a da Gerdau, a Vale ainda tem boa parte dos seus ativos e do faturamento ligado ao Brasil

A Fundação Dom Cabral levou em conta sete critérios para elaborar o ranking. O primeiro – o porcentual de receita com vendas externas – indica o estágio mais básico de internacionalização de uma empresa. Ter um alto porcentual de vendas no exterior, no entanto, não é suficiente. A empresa também precisa ter ativos no exterior. E essa foi uma das grandes evoluções dos últimos tempos. "Hoje há empresas com quase metade dos ativos lá fora, um sinal de amadurecimento", diz Cyrino. "Se a empresa só exporta, pode abandonar o mercado quando as coisas não vão bem.

Nesse quesito, a Marcopolo foi destaque. Segundo Cyrino, ela tem 46% dos seus ativos fora do País. A sua última investida foi na Índia, com uma joint venture com a Tata Motors. Ela também tem fábricas de ônibus no México, Colômbia, Portugal, África do Sul e Rússia

Uma empresa que só vende no exterior é muito diferente daquela que dá assistência técnica, faz marketing, fabrica, compra de fornecedores ou investe em pesquisa lá fora. Quanto mais atividades na cadeia de valor, mais inserida a empresa está no contexto internacional. Esse foi o ponto onde mais companhias ganharam nota máxima

O tempo de atividade e o porcentual de funcionários no exterior são outros sinais de globalização. No critério recursos humanos, as notas foram baixas de forma geral. A Gerdau teve a melhor avaliação, pois já tem cerca de 40% da sua força de trabalho fora do Brasil

Na avaliação de Cyrino, as brasileiras também estão atrasadas no quesito dispersão geográfica e governança corporativa (número de mercados de ações onde a companhia está listada). "Elas ainda estão muito concentradas na América Latina", diz o professor

A Sabó, fabricante de autopeças, se destacou nesse ponto. A empresa tem fábricas na Argentina, Alemanha, Áustria e Hungria, além de uma em construção nos EUA . Em fevereiro de 2007, vai abrir um escritório no Japão. A China também faz parte dos planos. "A Sabó se move dessa maneira porque o próprio setor automotivo exige", diz Antonio Carlos de Souza, diretor-geral da Sabó

Indústria

As empresas mais bem posicionadas no ranking são majoritariamente de base industrial. Esse resultado já era esperado, pois é típico de países jovens. Para Cyrino, o grande desafio será aumentar o nível de internacionalização de empresas de bens de consumo. "Embraer, Sadia, Natura e Alpargatas já deram um passo nesse sentido", diz Cyrino

A Sadia vende no exterior com o nome próprio e com as marcas Hilal, Corcovado, Sahtein e Rezende. "A construção de marca no exterior depende de continuidade e permanência. A marca não pode desaparecer de tempos em tempos", diz José Augusto de Sá, diretor de mercado externo da Sadia. "A empresa também tem de conhecer a cultura e os costumes dos países e se adaptar a eles.

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